O texto de hoje inicia uma caminhada pela Era Vargas, longo período de 15 anos em que o Brasil foi governado pelo gaúcho Getúlio Vargas, revolucionando nossa sociedade em todos os aspectos.
Revolução de 1930
Por cerca de 32 anos (1898-1930) o Brasil foi governado pelas oligarquias de São Paulo e Minas Gerais, com destaque para os produtores de café. Junto a República da Espada (1889 – 1894) e uma transição entre os dois momentos (1894-1898), esse período ficou conhecido como a 1º República ou República Velha.
Assim como todo o mundo capitalista, o Brasil sofria as consequências da Crise de 1929, fazendo o povo sofrer e atingindo em cheio os cafeicultores, dependentes do mercado internacional. O ano de 1930 foi um dos mais importantes de nossa história, já que nesse contexto conturbado, vivemos, provavelmente, a mais feroz disputa eleitoral de nossa história. De um lado tínhamos Vargas e a Aliança Liberal, formada por Paraíba, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, além de partidos de oposição de vários estados. O adversário era Júlio Prestes representando São Paulo e a continuidade no poder, também com respaldo em outros estados.
Minas foi um caso a parte, pois havia rompido a antiga aliança com os paulistas, motivados por eles não terem respeitado o acordo que dava aos mineiros a prerrogativa de indicar o candidato a presidente em 1930, no caso, o mineiro Antônio Carlos. Dessa forma, foi rompida a política do café com leite, como ficou conhecida essa histórica união.
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A eleição foi vencida por Prestes, com 1.091.709 votos contra 742.797. Entretanto, fortes rumores de fraudes, muito comuns naquela época, fizeram os perdedores não aceitarem o resultado. Para adicionar ainda mais pimenta a este caldo, logo após o pleito foi assassinado João Pessoa, governador da Paraíba e candidato a vice-presidente pelo partido de Vargas. Como as causas da morte eram duvidosas, foi usada pela Aliança Liberal como estopim para a revolução, jogando a culpa nos seguidores de Júlio Prestes.
Sabe-se hoje que a morte do paraibano se deu por um acerto de contas entre João Duarte Dantas e ele, inimigos de longa data. Mas como se sabe, guerra é guerra e qualquer brecha é explorada para se alcançar o poder.
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Com a ajuda dos militares, descontentes por estarem em segundo plano durante todo o período governado pelas oligarquias, foi consumado um golpe, impedindo a posse de Julio Prestes, que fugiu para o exterior junto ao presidente Washington Luiz, já em fim de mandato. O apoio das forças armadas deu a essa revolução o status de golpe militar.
As eleições ocorreram em 1º de março e a posse seria em 15 de novembro. Entre um e outro, foi desencadeada a revolução e quem assumiu, em 3 de novembro de 1930 foi o gaúcho Getúlio Vargas, dando início a um longo período de mudanças.
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Governo Provisório: 1930 – 1934
Chegando ao poder, Vargas cancelou nossa segunda constituição, promulgada em 1891. Compôs um ministério com vários gaúchos e mineiros, cidadãos dos dois principais estados da Aliança Liberal. De forma ditatorial, indicou militares para governar os estados, com a denominação de interventores. Esse foi um dos pagamentos pelo apoio recebido das forças armadas.
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A truculência do governo gerou grande insatisfação em setores da sociedade, em especial em São Paulo. Alijados do poder, mesmo vitoriosos nas eleições, e governados por um interventor pernambucano, os paulistas saíram as ruas em protesto contra Vargas. Exigiam uma nova constituição e a volta do poder legislativo, extinto pelo presidente gaúcho. Em uma dessas manifestações paulistas, duramente reprimidas pelo governo, 4 jovens foram mortos, dando início a uma guerra civil que assolou nosso país.
Revolução Constitucionalista de 1932
As elites paulistas trabalharam bem a propaganda e um sentimento de revolta uniu o estado contra o governo federal. Em 9 de julho eclodiu o conflito. Milhares de jovens se alistaram para lutar por São Paulo.
O movimento libertário usava a sigla MMDC, iniciais de Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, sobrenome dos 4 jovens mortos no ato político. Os cidadãos paulistas ajudaram com doações de joias, dinheiro e pratarias. Quem não podia contribuir financeiramente fazia fardas ou doava alimentos. A FIESP, Federação das indústrias de São Paulo, se integrou a causa fabricando armas e equipamentos militares em diversas fábricas.
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Os paulistas acreditavam que inspirariam outros estados a se revoltarem contra os desmandos de Vargas. Esperavam a chegada de reforços vindos dos 4 cantos do país. Mas o governo federal agiu com força máxima, cercou o estado e em cerca de 3 meses liquidou a guerra. Foram 35 mil soldados mobilizados por São Paulo frente a 100 mil do governo federal.
Até mesmo o porto de Santos estava bloqueado pela marinha brasileira. Pelo ar, a aeronáutica bombardeava pontos estratégicos. Por terra, o exército vinha pelo norte e pelo sul do estado. Cercados por todos os lados, os paulistas se renderam em 3 de outubro de 1932. Ao todo foram 3.500 baixas durante todo o conflito.
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A derrota de São Paulo não foi total. Mesmo vitorioso, Vargas percebeu a necessidade de convocar eleições para uma assembleia constituinte. O poder legislativo voltou a existir e foi promulgada nossa 3º constituição, no ano de 1934. Outro ponto foi a mudança do interventor pernambucano por um paulista.
Até os dias de hoje os paulistas se orgulham muito de terem lutado contra o governo Vargas. Por mais que o objetivo das elites era voltar ao poder, o estado de São Paulo, praticamente sozinho, lutava pela restauração da democracia no país.
Dessa forma, a Era Vargas entra em uma nova fase, conhecida como Governo Constitucional, tema de nosso próximo post.
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Publicado em 21.08.2017