177. Era Vargas: Governo Constitucional 1934 – 1937

Após a revolução de 1932 em São Paulo, tema de nosso último texto, Vargas permitiu a convocação de uma nova assembleia constituinte e nossa 3º constituição se tornou uma realidade em 1934. Uma nova fase se abriu na Era Vergas.

Governo Constitucional

Como o próprio nome já indica, durante um período de aproximadamente 3 anos, Vargas tentou governar de forma democrática, respeitando uma nova constituição com novidades muito interessantes, entre elas o voto secreto e o feminino. Valendo-se da falta de um candidato a altura, Vargas foi eleito indiretamente para a presidência, onde, pela previsão, permaneceria até 1938, quando novas eleições diretas seriam realizadas para o cargo.

O Brasil parecia entrar em uma normalidade democrática, mas não foi o que aconteceu, o período pré  2º Guerra Mundial fervia ideologicamente. Com o fim da repressão e a volta da democracia dois grupos se destacaram, criando no Brasil, um forte antagonismo já existente na Europa.

Ação Integralista Brasileira (AIB)

Criada em  7 de outubro de 1932, junto ao final da Revolução Constitucionalista em São Paulo, foi um movimento político fascista, liderado pelo escritor e jornalista Plínio Salgado.

Plínio Salgado, ao centro e de bigode, líder integralista. Imagem: Internet

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Assim como o fascismo na Itália e o nazismo na Alemanha, os integralistas usavam uniformes, tinham um símbolo (a letra grega sigma) e até mesmo uma saudação. Ficaram conhecidos como os camisas verdes, pela cor das roupas que usavam. Quando se encontravam, esticavam o braço e com as mãos espalmadas gritavam “anauê”, que, segundo consta, era uma palavra de origem tupi com o significado “você é meu irmão”. Uma clara analogia aos nossos ancestrais locais, já que eram muito nacionalistas.

Militantes integralista fazendo a típica saudação. Imagem: Internet

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Se distanciaram do nazismo por não incentivarem o racismo. Entretanto, alguns membros eram antissemitas. Nos parece claro o motivo desse certo distanciamento, já que o Brasil é um país multirracial, bem diferente da Alemanha, o que tornava inviável um partido brasileiro defendendo a famigerada “raça pura”, base das teorias de Hitler. Portanto, mais por impossibilidade do que por ideologia, nesse ponto eram mais equilibrados.

Jovens mulheres integralistas fazendo a saudação Anauê. Imagem: Internet

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As bases do integralismo eram o nacionalismo exacerbado, moralismo, liberalismo econômico e as práticas cristãs. Defendiam com toda força o direito à propriedade privada, já que na época existia o fantasma do comunismo, alvo máximo de sua ira. Assim como na Europa, fascistas e comunistas se enfrentavam Brasil a fora, algumas vezes com ações violentas.

Em paradas militares os integralistas marchavam como soldados. Imagem: Internet

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Em 1937, auge do movimento, contavam com mais de um milhão de adeptos. Na cúpula do governo Vargas alguns membros mantinham relações com os integralistas, mas, pela proporção que haviam tomado e principalmente com a meteórica ascensão nazista na Europa, nosso presidente não era adepto a esse grupo.

Inacreditavelmente, em 2009 foi lançada a Frente Integralista Brasileira, uma tentativa de reascender os ideais do extinto grupo, ainda com pouca adesão na sociedade brasileira. Vejam as fotos e a história desse novo momento no site Integralismo: História e Doutrina.

Aliança Nacional Libertadora (ANL)

O grande inimigo dos integralistas era a ANL, movimento de esquerda, anti-imperialista e antifascista, apoiado pelo Partido Comunista Brasileiro. Surgiu na segunda metade de 1934 (oficialmente em janeiro de 1935) com o objetivo claro de frear o avanço da extrema direita no Brasil. Tinha como lema “Pão, terra e liberdade”.

Tinham a agenda comunista, defendendo a paralisação do pagamento da dívida externa, a estatização de empresas internacionais e a realização de uma profunda reforma agrária. Contavam com o apoio de profissionais de várias áreas, entre eles políticos, intelectuais e até mesmo alguns militares.

Foto icônica de Luis Carlos Prestes em 1959, já em idade mais avançada, décadas após o surgimento da ANL.

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Luis Carlos Prestes, um dos mais polêmicos ícones da história brasileira, foi escolhido presidente de honra do partido, já que naquele momento da história ele se encontrava na URSS, totalmente mergulhado no comunismo. Entre 1925 e 1927 liderou um movimento conhecido como Coluna Prestes, que percorreu o Brasil denunciando os desmandos da República Velha, comandada pelas oligarquias. Chegou a ter 1.500 combatentes e foi fundamental para a Revolução de 1930, ajudando a escancarar as mazelas do governo federal brasileiro.

Intentona Comunista 1935

No dia 5 de julho, em meio a toda convulsão ideológica em que vivia o Brasil, Luis Carlos Prestes emitiu um manifesto de apoio a um levante comunista em nosso país, liderado pela ANL. O contra-ataque de Vargas veio na mesma moeda, proibindo a existência do movimento, dando ordens para a prisão de toda a  sua liderança.

A ação do governo levou os comunistas a realmente colocarem em prática uma tentativa frustrada de chegar ao poder. Apoiado pela Internacional Comunista, também conhecida como “Komintern”, Prestes, recém-chegado e clandestino no Brasil, liderou uma revolta que chegou a tomar alguns quartéis no nordeste do Brasil. Em Natal/RN, por exemplo, tendo início no dia 23 de novembro, o movimento conseguiu tomar toda a cidade, com o apoio até mesmo do interior do estado.

Um dia depois, militares de baixa patente se insurgiram no Recife em apoio aos revolucionários de Natal. No dia 27 foi a vez do Rio de Janeiro, também através de simpatizantes da causa dentro dos quartéis.

Luis Carlos Prestes no período da Coluna Prestes e a reportagem sobre a Intentona Comunista. Imagem: Internet

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A própria falta de sincronia entre os levantes facilitou as ações do governo que, decretou estado de sítio e colocou as forças armadas na rua. A tentativa fracassou e uma verdadeira caçada foi promovida contra os rebeldes.

A palavra “intentona” significa plano insensato, e foi usada de forma pejorativa para se referir a esta tentativa frustrada de revolução.

Luis Carlos Prestes no tribunal em 1937. Imagem: Internet

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Prestes foi preso em março de 1936, após alguns meses na clandestinidade, e ficou na cadeia até o fim da Era Vargas. Olga Benário, agente do komitern designada para ajudar na insurreição comunista foi presa junto ao líder e depois de 6 meses enviada de volta a seu país natal, a Alemanha. O detalhe é que Hitler já estava no poder e ela era judia e comunista. Viajou grávida de Prestes, com quem tinha um relacionamento, e morreu em um campo de concentração no ano de 1942, durante a  2 º Guerra Mundial.

Olga foi enviada ao Brasil em 1934. Ajudou Prestes na organização da Intentona e se tornou companheira dele. Imagem: Internet

Após grande pressão internacional, sua filha, Anita Leocádia Prestes, foi entregue a sua avó paterna no Brasil.

O envio de uma mulher judia grávida para a Alemanha nazista ficou marcado como uma das ações mais condenáveis do governo Vargas. A morte da militante só foi comprovada após o fim do maior conflito de todos os tempos.

Plano Cohen

Em 30 de setembro de 1937, o general Góes Monteiro anunciou no programa “Hora do Brasil” a existência de um plano internacional, elaborado pelos comunistas, para tomar o poder no Brasil. O nome dado a essa trama foi Plano Cohen, em referência ao líder comunista húngaro Bela Cohen.

Essa nova insurreição seria ainda mais impressionante que a primeira, e incluiria libertação de presos, depredação de comércios e assassinatos de políticos. Receoso, o Congresso Nacional concedeu a Vargas a decretação de estado de guerra já no dia seguinte ao anúncio.

Teve início uma perseguição feroz  a opositores de Vargas. Em de 10 novembro, o presidente cancelou a constituição de 1934 e promulgou uma nova, autoritária, dissolvendo novamente o congresso e implantando o famigerado Estado Novo, tema de nosso próximo texto.

Hoje sabemos que o Plano Cohen foi uma grande farsa, escrita pelo capitão do exército e integralista Olímpio Mourão Filho. Mais à frente na história, ele foi um dos arquitetos do Golpe de 1964. A intenção era implantar o medo para justificar um período de maior repressão.

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Publicado em 28.08.2017