Em nossos últimos textos tivemos a oportunidade de conhecer melhor os modais de transporte. Pelo que aprendemos, o transporte hidroviário é o mais adequado para grandes distâncias e cargas, consome pouco combustível e desloca uma quantidade descomunal de toneladas.
Em termos marítimos, o transporte hidroviário responde por 75% de todas as transações brasileiras. Assim como a maioria dos países do mundo, dependemos dos portos para transações internacionais. Entretanto, internamente, o transporte fluvial é tremendamente subutilizado. Somente cerca de 14% de nossas cargas são transportadas por rios e lagos.
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Como já abordado no texto 185, temos mais de 22 mil km de rios navegáveis, umas das maiores malhas mundiais. O problema é que a maior parte desse total está localizado na Amazônia, região com uma densidade demográfica baixíssima, com exceção da cidade de Manaus.
As regiões Sudeste e Sul, que possuem grande produção industrial, são cortadas por rios de planalto, necessitando de grandes obras para estarem aptos a navegação de grandes barcos e chatas. Como historicamente não investimos em logística e infraestrutura, somos carentes nesse tipo de transporte.
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As principais hidrovias do Brasil são dos rios:
- Tocantis-Araguaia, somam, juntos, quase 3.000 km navegáveis, conectando o Centro-Oeste ao Oceano Atlântico. Infelizmente não é totalmente navegável o ano todo, necessitando de algumas obras de adequação já em estágios iniciais. Veja no site do próprio Governo Federal.
- Madeira, muito importante para transporte de soja, milho e açúcar. É tão impressionante que conecta Porto Velho, capital de Rondônia, encravada no meio do continente, ao Oceano Atlântico;
- Taguari-Guaíba, conecta o interior do Rio Grande do Sul a Porto Alegre. Da capital seguem para o Oceano Atlântico;
- São Francisco, infelizmente, diminuindo a cada dia, graças ao assoreamento que faz com que o rio fique cada vez mais raso. Antes muito navegável, atualmente está operacional somente o trecho entre Pirapora e Juazeiro/Petrolina. Carece de obras para se conectar ao oceano, são inúmeras hidrelétricas sem eclusas, o que impede a passagem de barcos. Saiba mais no site do DNIT. Um complexo reflorestamento da região próxima ao rio já deveria ter começado para melhorar a situação do Velho Chico.
Já maior hidrovia do Brasil em termos financeiros, sem dúvida alguma, nos merece um espaço especial:
Tietê-Paraná
Estrategicamente cortando ao meio o estado de São Paulo, o rio Tietê, afluente do Paraná, promove umas das melhores rotas de transporte em nosso país. A hidrovia conecta os estados do Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais (Triângulo) e Paraná aos paulistas. Além das 5 unidades federativas diretamente favorecidas, todas grandes produtoras agrícolas, outras, como Rondônia e Tocantins, também utilizam a via. Para eles, é melhor levar a produção até os rios do que levá-la ao litoral, muito mais distante.
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Somente nos dois principais rios são cerca de 1.700 km navegáveis, sendo 1.023 km no Rio Paraná e 715 km no Rio Tietê. Um sistema de 8 eclusas e inúmeros terminais intermodais, além de um canal artificial, permitem o tráfico fluvial em toda a região. Novas obras em andamento irão ampliar o tamanho da hidrovia. Para quem não conhece, uma eclusa é uma obra que permite a transposição de obstáculos (barragens) pelas embarcações, como se fossem elevadores. Tudo isso ocorre somente enchendo e esvaziando reservatórios. Vejam abaixo.
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Subindo o rio Tietê, em direção ao litoral, a hidrovia chega ao fim pelo tamanho do rio, que fica estreito e raso. Em um dos terminais intermodais, ou seja, local com capacidade de trocar a carga entre transportes diferentes, o produto é colocado em trens que o levam até o porto de Santos. Uma logística que minimiza ou anula o transporte rodoviário. Em exemplo de investimento público que deveria ser exemplo no Brasil.
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No rio Paraná podem ser transportados comboios de até 200 metros de comprimento, já no Tietê 137 metros. São quase 6,5 milhões de cargas transportadas anualmente, principalmente do complexo soja, milho, areia, cana-de-açúcar, carvão e mandioca.
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Entre 2014 e 2015 a hidrovia penou com uma seca que atingiu o sudeste brasileiro, ficando interditada para embarcações. Em compensação, ano passado, retornando a ativa, bateu o recorde, transportando incríveis 9 milhões de toneladas. Muito acima da média citada anteriormente. Saiba mais em reportagem do site G1-Globo.
Hidrovia do Paraguai
Principal rio do Pantanal, o Paraguai é navegável de Cáceres, em Mato Grosso, até Nova Palmira, no Uruguai. Somente no Brasil são 1.272 Km. Comporta comboios de até 290 metros, levando soja, arroz, milho e madeira, minérios de ferro e manganês.
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Uma enorme polêmica ronda o rio Paraguai. Existe um gigantesco projeto de ampliação dessa hidrovia, através de centenas de obras que permitirão o tráfico de barcos e chatas o ano inteiro. Atualmente, durante a seca, a movimentação de cargas cessa. O grande problema são os impactos ambientais.
Não se sabe ao certo, como o Pantanal reagiria a obras de aprofundamento da calha do Paraguai. Seriam obras de dragagens, derrocamento¹ e aumento do ângulo de algumas curvas do rio. Como uma planície inundável, essas obras poderiam modificar o período de cheias, aniquilando o bioma.
Outro grande obstáculo é a integração da hidrovia do Paraguai com a Tietê-Paraná. A hidrelétrica de Itaipu limita essa conexão, já que não possuiu eclusa. Com um desnível de quase 196 metros na barragem, seriam necessárias 4 eclusas e um canal com algo próximo a 12 km para transferir as embarcações da parte alta para a baixa e vice-versa. Não existe a possibilidade de somente um equipamento fazer tamanha transferência, que deve ser gradativa.
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O grande ponto positivo seria a conexão com a Hidrovia Tietê-Paraná, criando a enorme hidrovia Paraguai-Paraná, conectando quase todo o sul do Brasil aos outros países do Mercosul.
A discussão é grande e as análises ambientais ainda insipientes. Temos que ficar atentos, sabemos como o poder do capital fala alto nessas disputas.
Espero ter aumentado seu conhecimento. Curta nossa página no Facebook e compartilhe nosso texto! Abraço do Clebinho!
1 – Derrocamento: É a retirada de material do fundo do rio, que não é oriundo de assoreamento, ou seja. o material que compõe naturalmente o leito do rio, que pode ser pedregoso ou não.
Publicado em 20.11.2017