189. Carente Zimbabwe

No dia 21 de novembro de 2017 o governante mundial a mais tempo no poder pediu sua renúncia. Após impressionantes 37 anos comandando o pobre Zimbábue (ou Zimbabwe), Robert Mugabe, enfim, vai “descansar”, aos 93 anos. Só não sabemos como serão essas férias prolongadas, já que sua saída foi forçada pelas Forças Armadas.

Antes de nos aprofundarmos no assunto, vamos conhecer melhor o país:

Zimbabwe

Bandeira do Zimbabwe.

.

É um país localizado no sul da África. Faz fronteira com a Zâmbia ao norte, Botsuana a oeste, Moçambique a leste e África do Sul ao sul. Em 2016 totalizava pouco mais de 16 milhões de habitantes, espalhados por uma área de 390 mil km². Se fosse um estado brasileiro, estaria em 6º no ranking territorial, atrás da Bahia com 564,6 mil km².

Possui um PIB muito baixo para um país, cerca de US$ 32 bilhões. Para efeito de comparação, algo parecido ao PIB do Mato Grosso, o 14º do Brasil. Sua capital é a cidade de Harare, com cerca de 1,5 milhão de habitantes.

Localização do país. Observe que o país não possui litoral. Imagem: Internet.

.

É um país paupérrimo, com um PIB per capita de US$ 900, frente a cerca de US$ 8.000 no Brasil. E olha que nosso número é mediano.  Como mais uma colônia britânica no mundo, conquistou alguma autonomia em 1923, ainda com o nome de Rodésia do Sul (Zâmbia era a do norte). O nome deriva de Cecil Rhodes, britânico, homem de negócios, que conseguiu direitos de mineração na região em 1888.

É um país com paisagens naturais belíssimas e uma savana repleta de grandes mamíferos, entre eles leões, leopardos, rinocerontes e elefantes. O site Trip Advisor elenca inúmeras atrações ligadas a natureza neste fantástico país, confiram.

Vitória Falls, ou Cataratas de Vitória, ficam na divisa do Zimbabwe com a Zâmbia, no rio Zambeze. O nome é uma homenagem a rainha Vitória, do Reino Unido. Imagem: Internet.

.

Tardiamente, em 1964, o país se declarou independente de forma unilateral, não sendo reconhecido pelo Reino Unido, mudando o nome para Rodésia, eliminando a palavra Sul. Dominados por uma minoria branca, algo relativamente parecido com o que ocorria na África do Sul, foi isolado internacionalmente e enfrentou uma guerra civil sangrenta entre o governo e guerrilhas representando a maioria negra do país. A guerra durou 15 anos (1964-79) e terminou com a vitória dos rebeldes. Estima-se que um total de 30 mil pessoas tenham morrido nos embates. De forma oficial, o país só se tornou independente do Reino Unido em 1980.

Foram implementadas eleições diretas e o fim do domínio branco sobre o país. Além disso, o nome foi mudado para República do Zimbabwe, que significa “casa de pedra” na língua local xona. . Em 1980 foi realizado o pleito nacional vencido pelo líder guerrilheiro e professor Robert Mugabe.

A chegada de um representante popular ao poder não foi, necessariamente, a fórmula do sucesso.

Robert Mugabe

Nasceu em 1924, em Kutama, noroeste de Harare. Em 1964, após a declaração de independência do país, foi preso pelo governo por ser considerado subversivo, ficando na cadeia por 10 anos. Professor desde os 17 anos, não parou de estudar mesmo encarcerado. Possui diplomas de Inglês, História, Educação e Economia, essa última pela Universidade de Londres.

Liberto, se tornou o grande nome da oposição frente a poderosa minoria branca, sendo eleito primeiro-ministro do país em 1980. Naquele momento, era um grande herói nacional, comparado localmente a Mandela, também preso político naquele momento. Infelizmente, as trajetórias dos dois se separam completamente após sua chegada ao poder.

Mugabe em 1980, ano em que chegou ao poder. Créditos na foto.

.

A história de Mugabe é uma entre tantas outras. Homem bem-intencionado, chegou ao poder, mas depois não conseguiu sair. O poder fascina e corrompe.

Seguindo uma linha Marxista, proveniente da Guerra Fria, Mugabe passou a colocar a culpa de todos os males do país no capitalismo mundial, principalmente no Reino Unido. Se eximir de culpa é o primeiro passo para o fracasso.

Logo de início, já em 1982, rompeu alianças e cancelou o sistema parlamentarista, se aproximando mais do sistema que lhe dava mais poder, o presidencialismo. Proibiu partidos políticos e promoveu uma ditadura de partido único.

A medida que envelhecia, se tornava um déspota cada vez maior. Através de milícias, pressionava adversários, isso quando esses não eram assassinados. Venceu as eleições de 1984, 1990, 1996 e 2002, porém, com enormes indícios de fraudes.

Robert Mugabe. Imagem: REUTERS/Philimon Bulawayo/

.

No ano 2000, fez uma intensa reforma agrária no país. Esse fato seria merecedor de aplausos, entretanto, não foi algo que visava o bem comum. Retirou terras dos tradicionais agricultores brancos e as deu a membros de seu partido, o único permitido no país. Despreparados para a lida no campo, a produção agrícola despencou e o país, antes exportador de alimentos, se tornou importador. O celeiro da África, como era conhecido, entrou um colapso.

Atualmente, 72% da população do Zimbabwe vive abaixo da linha da pobreza. Ao longo de todo o seu mandato, o único ponto positivo, e temos que destacar aqui, foi a alfabetização de quase 90% da população adulta, feito digno de elogios no continente africano.

Em 2008 um sinal de desgaste, Mugabe perdeu o primeiro turno das eleições. No segundo, venceu por desistência do adversário, Morgan Tsvangirai, forçada pelo assassinato de inúmeros de seus apoiadores. Era o domínio pelo terror. No mesmo ano o país chegou a ter uma hiperinflação de, pasmem, 231.000.000% ao ano. Chegou a circular no país uma nota que valia 100 trilhões de dólares zimbabuanos. Se não acredita, veja em reportagem do site da renomada BBC.

A impressionante nota de 100 trilhões de dólares do Zimbawe. Imagem: Internet.

.

Para termos uma noção do tamanho do problema, vejam a regressão do PIB do Zimbabwe nessa sequência de anos: 2002: -4,4%, 2003: -10,4%, 2004: -3,8%, 2005: -5,3%, 2006: -4,8%, 2007: -5.7%, 2008: -3.8%.

Renúncia

Completamente desgastado, e se mantendo no poder graças a benesses distribuídas a seus asseclas, em novembro de 2017 Mugabe exagerou. Este ano, humilhou e demitiu seu vice-presidente, Emmerson Mnangagwa, homem forte do partido e sucessor natural do ditador. Fez isso para apoiar sua esposa, Grace Mugabe, como legítima sucessora de seu regime. O detalhe é que ela coleciona um enorme número de inimigos, graças a seus rompantes de raiva.

Preso em sua mansão pelas forças armadas do país, Mugabe não resistiu e renunciou após 37 anos no poder. Saiu pelas portas dos fundos do poder na terça feira, dia 21.11.2017.

Mugabe e sua polêmica esposa. Imagem: Internet.

.

Mnangagwa  tomou posse até as eleições marcadas para setembro de 2018. Se realmente irão acontecer é uma outra história.

Torcemos para que seja um recomeço, já que um país com 1,3 milhão de pessoas com AIDS e passando por uma epidemia de cólera, merece uma sorte melhor do que ficar colocando a culpa nos países estrangeiros. O triste detalhe é que Mnangagwa fazia parte do círculo de poder de Mugabe e, evidentemente, de sua mulher também. Não vemos muitas chances de uma mudança radical no país. Parece vir mais do mesmo por ai.

Emmerson Dambudzo Mnangagwa é hoje o homem forte no Zimbabwe. Imagem: Internet.

.

Aguardamos ansiosos o desfecho deste caso, que não será tão simples assim.

Espero ter aumentado seu conhecimento. Curta nossa página no Facebook e compartilhe nosso texto! Abraço do Clebinho!

Publicado em 04.12.2017

2 comments to “189. Carente Zimbabwe”
  1. Excelente matéria. Como professor de Geografia só tenho que parabenizá-lo pelo tema, e a forma clara que foi tratada.

Comments are closed.