Nosso último texto mostrou o quanto foi conturbada a transição do Governo Vargas para o de Juscelino Kubitschek. Dois homens considerados por muitos os maiores presidentes da história do Brasil, ainda que acumulando acertos e erros.
Histórico pessoal
JK, como ficou mundialmente conhecido, nasceu em 12 de setembro de 1902 na cidade mineira de Diamantina. Em 1920 mudou-se para Belo Horizonte onde, em 1927, formou-se em medicina pela UFMG. Médico militar durante a Revolução Constitucionalista de 1932, se interessou pela política e foi eleito Deputado federal em 1934, sendo pelo caçado golpe que deu início ao Estado Novo. Na verdade, em 1937, Vargas eliminou todo o Poder Legislativo no país.
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Em 1940 foi nomeado prefeito de Belo Horizonte por Benedito Valadares, governador de Minas Gerais e fiel escudeiro de Getúlio Vargas. Apesar de não ter chegado ao cargo de forma democrática, ficou conhecido como “prefeito furacão”, devido a grande mudança implantada por ele na cidade.
BH, como é conhecida a capital dos mineiros, era uma cidade ainda pequena, com 200 mil habitantes. Bem diferente dos mais de 2,5 milhões atuais. Ainda assim, JK enxergou longe, abrindo avenidas, canalizando córregos e, como médico, focou seu governo no saneamento básico.
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Deixou seu legado após liderar a construção do Conjunto Arquitetônico da Pampulha, criando um lago margeado por obras projetadas pelo gênio da arquitetura Oscar Niemeyer. A Igreja São Francisco de Assis, conhecida popularmente como Igrejinha da Pampulha, é um marco cultural do Estado. Além de ser uma obra arrojada do arquiteto carioca, possui painéis de Cândido Portinari e paisagismo de Burle Marx.
Em 1951 foi eleito democraticamente Governador de Minas Gerais, cargo que ocupou até março de 1955, quando se licenciou para disputar a Presidência da República. Seu maior feito foi a criação da Companhia Energética de Minas Gerais S.A. (CEMIG), uma das maiores empresas do Brasil atualmente.
Presidência (1956-1961)
Como observado em nosso último texto, JK venceu as eleições de 1955 e, com bastante dificuldade, assumiu o cargo em 31 de janeiro de 1956.
Um de seus maiores feitos, por incrível que pareça, foi terminar seu mandato, algo tremendamente raro no Brasil durante o século XX. A partir de 1930, Juscelino, Eurico Gaspar Dutra e Fernando Henrique Cardoso foram os únicos a serem eleitos de forma direta e concluírem seus mandatos. Isso em um universo de 23 presidentes mais uma junta militar que governou por 3 meses em 1969. Antes disso, as eleições eram abertas, e o voto de cabresto era comum, tornando os resultados duvidosos.
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Seu governo foi baseado no Plano de Metas, objetivos determinados por JK para ampliar e melhorar a infraestrutura do Brasil. As áreas de energia e transporte receberam 70% do orçamento, tendo um enorme sucesso. Paralelamente, a indústria, outro setor prioritário, teve um grande crescimento. Educação e alimentação, com apenas 7% do orçamento, foram áreas que não atingiram o objetivo inicial. Ao todo eram 31 metas.
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O setor automobilístico foi o carro chefe. Foram atraídas para o Brasil fábricas da Volkswagem, Mercedes Benz, General Motors e Willis. No setor energético foram construídas inúmeras hidrelétricas, entre elas as mais importantes foram a de Paulo Afonso-BA e Furnas-MG, ambas no rio São Francisco. O crescimento das indústrias de base, fundamentais ao processo de industrialização, foi de praticamente 100% no mandato 1956-1961.
Uma das maiores proezas de JK foi a mudança da capital do Brasil, indo do Rio de Janeiro para o Centro-Oeste. Para tanto, foi preciso construir uma nova cidade em apenas 5 anos. Um feito assombroso para o Brasil. Brasília, a nova capital, é até hoje uma das cidades mais modernas do mundo, elaborada pelo urbanista Lúcio Costa, com grande parte das construções sendo projetadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Foi inaugurada em 21 de abril de 1960.
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O Governo JK também ficou conhecido como os “Anos Dourados”. Tivemos um presidente que governou sem sobressaltos políticos e nossa economia cresceu em um ritmo alucinante. Além disso, outros fatores corroboraram para um sentimento nacional de otimismo, fomos campeões do mundo de futebol em 1958 e a Bossa Nova, ritmo genuinamente brasileiro, alcançava sucesso internacional.
Infelizmente, na sequência da história, as coisas ficariam sombrias por aqui depois do Golpe Militar de 1964. JK foi antecedido e precedido por governos tumultuados.
Polêmicas
Como eu sempre digo aos meus alunos, não existe mágica. Para alcançar estrondoso crescimento, JK emitiu muita moeda, aumentando a inflação. Ele pegou um país com um aumento sistêmico de preços de 12% ao ano e entregou com 35%.
Nosso país também ficou dependente do capital internacional. Como exemplo, até hoje todas as indústrias que produzem veículos no Brasil são estrangeiras. Outro fator negativo foi o pequeno investimento no campo, criando uma enorme disparidade em relação ao meio urbano, causando êxodo rural e um inchaço das grandes cidades. Também houve um descompasso entre as regiões, com o Sudeste se industrializando e crescendo muito mais que o restante do país.
Não conseguiu eleger seu sucessor, o General Henrique Lott, homem de reputação ilibada, porém sem carisma pessoal. Foi eleito senador por Goiás e estava se preparando para se candidatar as eleições de 1965, impedidas antes pelo Golpe de 1964.
A Marca desenvolvimentista
Acusado por seus adversários de ter ligações com as empreiteiras que construíram Brasília, em nenhum momento foi encontrado qualquer indício de corrupção em relação a sua pessoa. Em seu governo, aboliu a censura e conviveu democraticamente com a oposição, em especial, Carlos Lacerda.
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Entre acertos e erros, JK deixou sua marca desenvolvimentista no país e é aclamado pela maioria como um dos maiores presidente de nossa história. Se hoje somos um dos maiores produtores de automóveis do mundo, grande parte do crédito pode ser dado a ele.
Morreu em 1976 vitimado em um acidente automobilístico na Via Dutra. Em plena ditadura militar, sua morte levantou suspeitas de um atentado, até hoje sem qualquer prova cabal.
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Publicado em 28.02.2018