202. A Grande Crise de 29

O capitalismo é cíclico, vive momentos de grandes crescimentos e outros de profundas recessões. As crises do petróleo na década de 1970 reverberaram por todo o mundo, afetando desde o mais rico investidor ao mais pobre trabalhador, afinal, até os dias atuais ainda somos dependentes dessa energia fóssil.

No século XXI, especificamente em 2000, tivemos o estouro do que ficou conhecido como a bolha da tecnologia, representada pelo índice Nasdaq, com repercussões internacionais. No início de 2001, muitas empresas conhecidas como “ponto com”, ligadas a internet, desapareceram ou foram incorporadas por outras.

Bolha

Para quem não sabe, bolha é quando os valores negociados chegam a preços que não se sustentam, levados a este ponto pela especulação.

Se o preço está subindo, muita gente se sente atraído pelo ganho relativamente fácil, querendo também comprar por um preço e vender por outro muito maior. O problema é que em algum momento o valor chega a um patamar tão alto que se descola totalmente do valor real. Quando os investidores detectam esse ponto, suspendem as compras. A partir desse ponto, quem tem o ativo tenta vendê-lo o mais rápido possível, para diminuir suas perdas. O problema é que, geralmente, todos pensam assim simultaneamente. A notícia se espalha e o preço cai drasticamente em um efeito cascata. Quanto mais diminui, menos pessoas querem comprar. A bolha estourou.

CLIQUE PARA AMPLIAR. Observem o índice Nasdaq e percebam a grande queda no ano 2000, a chamada bolha, além da crise de 2008/09 também. Imagem: Internet.

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A primeira grande bolha ocorreu na Holanda, em 1637, no comércio de tulipas. De lá para cá, inúmeras outras crises arrasaram fortunas, e parece que não aprendemos, ou o risco se torna algo menor frente aos possíveis lucros. O canto da sereia é forte mesmo.

Em 2008, há 10 anos atrás, tivemos a quebra de um banco de investimento norte-americano, Lehman Brothers, sinalizando ao  mercado que o mecanismo econômico estava doente, gerando um efeito dominó que também afetou todo o mundo.

Crise de 1929

Todas as crises citadas anteriormente se tornam menores quando analisamos o que ocorreu em 1929, de longe, o maior desequilíbrio da história do capitalismo, também chamado de “A Grande Depressão”, gerando consequências inimagináveis para o mundo.

Observem no gráfico abaixo a brutal queda das ações pós 1929:

O gráfico compara a Crise de 29, na cor azul claro, comparando com a crise de 2008, preto. O número 1 na vertical indica o valor máximo das ações antes da crise. O 1 na horizontal o lapso de tempo final. Gráfico: Internet.

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A crise de 29 ocorreu entre as duas Guerras Mundiais, e elas marcam exatamente o início e o fim do problema.

Prévia

Durante a I Guerra Mundial, os países europeus estavam completamente envolvidos nos combates. Suas indústrias estavam destruídas ou produzindo artigos de guerra. Estando longe do problema, com muitos recursos naturais e mão de obra farta, os EUA assumiram a interessante missão de fornecer comida, carvão, aço, máquinas, armamentos, petróleo, entre outros produtos aos moradores do Velho Mundo.

Durante a segunda metade do século XIX, os EUA passaram pela 2º Revolução Industrial e no início da I Guerra Mundial estavam prontos para fornecer o que a Europa precisava para o conflito, e depois em sua reconstrução. Imagem: Internet.

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O Reino Unido era o grande império daquela época, e foram abastecidos pelos EUA, podendo inclusive pagar depois. Com isso, uma enorme dependência foi sendo gerada entre as antigas potências europeias e os emergentes norte-americanos.

O Brasil também poderia ter entrado nesse circuito, mas, enquanto os EUA já haviam passado pela 2º Revolução Industrial na segunda metade do século XIX, estávamos aqui preocupados em produzir café. O produto agrícola tem o seu valor, mas é supérfluo frente as necessidades mais básicas em um período de guerra.

Com o fim das batalhas, a situação se prolongou, já que os europeus, a partir daquele momento, precisavam reconstruir seus países.

Os Loucos Anos 20

Essa década ficou conhecida dessa forma. Uma euforia tomou conta dos EUA, com sua economia crescendo de forma incrível devido ao aumento da procura mundial por seus produtos. Com uma circulação farta de dinheiro, empresas e cidadãos passaram a investir na bolsa, comprando ações de diversas corporações. Os lucros exorbitantes atraíam cada vez mais investidores.

Quem não investisse na bolsa parecia estar perdendo a oportunidade de ganhar dinheiro fácil, já que as ações invariavelmente subiam. Era quase inevitável, fortunas foram despejadas no mercado financeiro. A indústria e a agricultura ampliavam suas produções e batiam recordes.

Nova Iorque (Times Square) na década de 20. Observem como a cidade, com mais de 5 milhões de habitantes,  já possuía carros e uma multidão de pessoas nas ruas. Imagem: Internet.

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Junto a esse boom econômico veio o aumento do consumo e a confirmação do termo “American way of life ” (Estilo americano de vida), forma extravagante de consumo que podemos observar até os dias de hoje em terras yankees.

O Crash na Bolsa de Nova Iorque

Toda reconstrução tem seu fim, e foi isso o que ocorreu na Europa a partir da segunda metade da década de 1920. Uma diminuição nas vendas de produtos norte-americanos teve início, sendo realmente sentida a partir de 1928.

As empresas, gigantes, começaram a acumular estoques, sem ter a quem vender. Notícias de que as fábricas estavam com seus depósitos abarrotados começaram a circular pelo mercado de ações. Algo não parecia estar indo bem.

Em setembro de 1929 o índice Dow Jones atingiu o nível máximo, e o volume de negócios começou a diminuir, os investidores já estavam ressabiados. Uma bolha estava prestes a estourar.

Milhares de norte-americanos em pânico na Wall Street, famosa rua onde está localizada a bolsa de Nova Iorque. Todos atordoados com a quedas dos preços das ações. Milhares de pessoas tinham todas as suas economias investidas em papeis financeiros. Imagem: Internet.

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No dia 24 de outubro de 1929, conhecido como quinta feira negra (Black Thursday), o copo entornou. Preocupados em garantir a venda de suas ações antes de um possível colapso nos preços, alguns investidores colocaram suas ações a venda. Naquele dia, não houveram compradores. A notícia se espalhou e milhares de pessoas correram para também  tentar vender e conseguir diminuir o prejuízo.

O problema é que o mercado de investimentos é muito sensível, trata com dinheiro, e o problema foi disseminado muito rapidamente. Muita gente vendendo e poucos comprando fez as ações caírem 11% naquele fatídico dia. Cerca de 12,9 milhões de ações foram vendidas apenas naquela quinta-feira.

Observem o quanto a bolsa caiu no momento do Crash e a penúria dos anos subsequentes. Imagem: Internet.

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Na sexta feira, um grupo de banqueiros se reuniu com os representantes da bolsa e injetou compras em alguma blueships, conseguindo estancar a sangria e mostrando que as ações na bolsa ainda tinham valor. O problema é que ao longo do fim de semana os jornais se debruçaram sobre o problema, alertando o público que algo não estava bem. Segunda-feira as quedas voltaram, quase 13%, e na terça 12%. Um horror.

O mercado continuou a cair nos dias seguintes, atingindo o mínimo daquele ano em 13 de novembro de 1929, com 198.60 pontos, frente aos quase 381.17 iniciais. Nos anos que se seguiram, a situação piorou ainda mais.

Não foram só os preços das ações e a superprodução que geraram o problema, um excesso de crédito também é considerado um fator importante. A enorme quantidade de dinheiro circulando gerou uma discrepância em relação a produção, ou seja, não tinha lastro para tamanha circulação financeira.

Deixaram que o próprio mercado se regulasse, algo que nunca poderia ter acontecido. Durante toda a década seguinte os EUA permaneceram mergulhados em uma crise, tema de nosso próximo texto.

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Publicado em 29.05.2018