211. Revolução Industrial

Um dos pilares da história humana foram as Revoluções Industriais. Elas transformaram e continuam impactando profundamente a sociedade mundial. Ao lado do desenvolvimento da agricultura, há cerca de 12 mil anos atrás, são marcos históricos no desenvolvimento de nossa espécie. Vamos abordar esses fantásticos saltos tecnológicos a partir de agora, começando pelo primeiro.

Antecedentes

O processo produtivo anterior as Revoluções Industriais era bastante rústico. Os artesãos, sozinhos ou em conjunto, produziam de forma manual, utilizando ferramentas e dominando todo o processo, desde a matéria prima ao produto final. Era comum participarem também da venda, estando presente, então, em todas as etapas da produção.

Desenho retratando uma manufatura do Século XVIII. Imagem: Internet.

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O produtor possuía um maior controle sobre sua arte, assim como o domínio do lucro. Essas oficinas produtivas eram conhecidas como manufaturas, palavra que deriva da palavra manual.

Como a produção era pequena, poucas pessoas tinham acesso ao produto, sendo um dos pontos mais negativo desse período. Não existia, e nem poderia, uma noção de consumo como conhecemos hoje.

A Europa, berço da revolução, ainda era, no século XVII,  um continente agrícola e dominado pelo que chamamos de Antigo Regime¹.

1° Revolução Industrial 

Consiste em uma série de inventos que transformaram completamente a forma de produzir, mudando com isso toda a sociedade, a partir da segunda metade do século XVIII. O principal invento foi a máquina movida a vapor, já que a partir daquele momento, estávamos migrando da força animal/humana para a mecânica. Existe uma grande discussão em relação ao início de todo o processo, mas podemos cravar algo entre as décadas de 1760 e 1770.

Essa é a máquina a vapor criada pelo escocês James Watt no ano de 1765. Ele aperfeiçoou o motor criado pelo inglês Thomas Newcomen em 1698, porém ainda muito rudimentar e com enorme perda de potência. O motor inicial, criado para bombear água das minas, quando adaptado por Watt, passou a atender as indústrias têxteis. Imagem: Internet.

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O carvão mineral foi a grande força motriz da 1° Revolução Industrial. A partir do calor gerado por ele, e a consequente formação do vapor de água impulsionando máquinas, a produção aumentou em um nível exponencial. O surgimento dos trens, também a vapor, foi o grande diferencial na disseminação de produtos e matérias primas, ampliando drasticamente a logística comercial.

Os trens a vapor, e suas linhas férreas, disseminaram os produtos por toda Inglaterra, mais tarde pela Europa e pelo mundo. Imagem: Internet.

Pioneirismo Inglês

Vários motivos explicam o fato da Revolução Industrial ter se iniciado na Inglaterra, entre eles destacamos:

  • A adoção da Política dos Cercamentos de Terras (Enclosure Acts),  a partir do Século XVI, transformando as propriedades rurais, antes habitadas por vassalos e dominadas por senhores feudais, em pastos para ovelhas. Com isso, um mar de mão de obra, sem ter onde trabalhar ou morar, migrou para as áreas urbanas, berço da industrialização. O objetivo da mudança era aumentar a produção de lã, matéria prima fundamental para as indústrias têxteis, as primeiras a surgirem. Criou-se até um termo para isso: Inglaterra, país onde as ovelhas devoram humanos.

O campo passou a ser prioritariamente usado para criar ovelhas. A lã era a matéria prima da indústria têxtil. Imagem: Internet.

  • Em 1651 foi decretada no país os Atos de Navegação, que limitava somente a navios ingleses o transporte de todo produto importado ou exportado pela Inglaterra. Com isso, consolidou-se uma burguesia que pode acumular capital, necessário mais a frente para implementar o desenvolvimento de máquinas e indústrias;
  • O país havia passado, em 1688, pela Revolução Gloriosa, deixando para trás o absolutismo e adotando uma monarquia parlamentarista, com diminuto poder do rei e confirmando a ascensão da burguesia.
  • Essa mesma burguesia já vinha acumulando capital através de ações legais, como o comércio, e ações deploráveis como o tráfico de escravos (abolido só em 1834) e o financiamento a ataques piratas, através dos corsários.

Sir Francis Drake em 1591 (morto em 1596),  foi o maior corsário da história. Em um momento anterior a industrialização tinha autorização da rainha para atacar qualquer embarcação não inglesa. Imagem: National Maritime Museum, em Londres

  • O próprio Mercantilismo implementado pela Inglaterra, acumulando metais (ouro e prata) vindos de suas colônias espalhadas por todo o mundo, colocou os britânicos a frente de qualquer outra nação em termos econômicos. Além, é claro, de impor tratados altamente prejudiciais a países mais fracos. De uma forma ou de outra, até mesmo riquezas de colônias de outros países, como do Brasil, desembocavam na Inglaterra.
  • A Inglaterra era conhecida como “o império onde o sol nunca se põe”. Com todo esse controle dominava rotas marítimas, mão de obra e recursos necessários para um salto tecnológico e comercial.

Territórios que em algum momento foram dominados pela Inglaterra. Imagem: Internet.

  • Um fator geográfico primordial foi o fato da Inglaterra ser rica em carvão mineral e minério de ferro. Uma, a energia que impulsionou todo o processo, a outra, a matéria prima necessária para a construção das máquinas.

Reservas de carvão mineral na Grã-Bretanha, no século XIX. Imagem: Internet.

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A complexa interligação de todos esses fatores, somados ao brilhantismo de alguns inventores, criou o ambiente perfeito para a Revolução Industrial.

Desdobramentos

A partir do advento das máquinas o empregado passou a perder importância no processo, trocando o domínio total sobre a produção pela participação em um pequeno estágio do todo. Chamamos isso de alienação do trabalho, já que agora o funcionário sequer se vê representado no produto final. Esse novo modelo de negócio permitiu aos empregadores trocarem com facilidade seu funcionário, já que o novo contratado, com certa facilidade, aprende a nova função, mais simplificada e repetitiva.

O artesão passou a se tornar o que chamamos de proletariado, um batalhão de mão de obra, criado pelo êxodo rural, forçando os salários para baixo e aumentando o número de horas trabalhadas. Lembramos que, nesse primeiro momento, ainda estávamos longe do que chamamos de leis trabalhistas.

Foi um período inovador, mas muito obscuro em termos humanos. Pessoas trabalhavam em condições subumanas, insalubres, recebendo pouco e sendo exploradas. Outro ponto negativo é o início da queima maciça de combustíveis fósseis, problema que se agravou, e hoje é causa do aquecimento global.

Londres ao final do século XVIII e início do XIX era suja, poluída e com surtos de doenças. As pessoas trabalhavam cerca de 14 horas por dia, e as crianças entre 10 e 12. Imagem: Internet.

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O processo de urbanização se intensificou, Londres explodiu de gente, e a Inglaterra se tornou, ainda no século XIX, o primeiro país a ter mais pessoas vivendo nas áreas urbanas que no campo. Como exemplo, o Brasil só chegou a esse ponto na década de 1960.

Por outro lado as inovações também tiveram seu lado profícuo. Além de toda a inovação, marcou um maior acesso dos cidadãos aos produtos, agora barateados pela forma maciça de se produzir. Na França, a revolução chegou ainda no século XVIII, também se estendendo pela Alemanha em meados do século XIX. Nos EUA, o fenômeno chegou na segunda metade do século XIX, sendo esse país o grande responsável por uma nova onda de inovações, a 2º Revolução Industrial, tema de nosso próximo texto.

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Antigo Regime¹: Tipo de governo absolutista, onde o rei centralizava todo o poder, sendo considerado sagrado.

Publicado em 14.08.2018