Um dos fatos mais icônicos da nossa história foi a transferência da família real portuguesa para o Brasil. Esse episódio mudou completamente os rumos do nosso país, culminando, mais tarde, em nossa independência.
Contexto Histórico
Em 1799 Napoleão Bonaparte chegou ao poder na França através “Golpe 18 de Brumário”. Inimigo mortal dos ingleses, percebeu que não conseguiria derrotá-los no mar, onde eram soberanos. Desta forma, resolveu impedir que os britânicos comercializassem com qualquer país europeu e suas colônias, decretando o “Bloqueio Continental” no ano de 1806.
Era uma tentativa de sufocar e isolar o inimigo. A partir desse momento, as nações que mantivessem relações diplomáticas ou econômicas com os ingleses seriam declaradas inimigas da França.
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Nesse momento da história Portugal era governado por D. João VI, o príncipe regente, já que sua mãe havia sido declarada mentalmente inapta ao cargo. Ele chegou ao poder graças a morte de seu irmão, Dom José, primogênito e homem que vinha sendo talhado ao cargo.
Indeciso quanto a decisão a ser tomada, Dom João era pressionado por todos os lados. Dentro do próprio país existiam defensores das duas possibilidades em aberto.
Se Portugal rompesse com a Inglaterra, antigo aliado, corria o risco de perder suas colônias, que seriam tomadas pelos ingleses, muito mais poderosos nos oceanos. Neste caso, o maior perigo era ter o Brasil subtraído, já que era a grande fonte de riquezas dos nobres portugueses.
Apoiando a Inglaterra, e se recusando a aderir ao bloqueio, seria varrido do mapa pelas tropas terrestres de Napoleão.
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Após muitas discussões, o governante de Portugal tentou um embuste, prometendo ajuda naval a Napoleão, ao mesmo tempo que negociava uma fuga com os ingleses. O regente queria ganhar tempo.
Napoleão não confiava nos portugueses, e assinou com a Espanha o tratado de Fontainebleau, que permitia a passagem das tropas francesas pelo território espanhol rumo a Portugal, que seria dividido entre os dois países.
A partir desse ponto, Dom João sabia que a invasão era inevitável.
No dia 23 de novembro de 1807 as tropas do general Junot entraram em terras portuguesas e a chegada a Lisboa era iminente. No dia 27, escoltado por 7 mil ingleses, a elite de Portugal fugiu de seu país, deixando para trás uma Junta Governamental que tentaria o quase impossível, negociar com os franceses.
A fuga não pode ser iniciada de imediato, por falta de ventos as embarcações ficaram impossibilitadas de alavancar a saída, fato que só pode ser concretizado no dia 29 de novembro. O comandante Junot chegou a Lisboa ás 9:00 da manhã do dia 3o, com 26 mil homens.
Alguns historiadores afirmam que os franceses ainda viram os últimos navios da esquadra que partia no horizonte. Foi por pouco, os portugueses protagonizaram uma das fugas mais espetaculares da história.
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Apesar de ter abandonado seu povo, em geral, a manobra de Dom João foi considerada estratégica, já que manteve seu poder, sua colônia principal e livrou-se da humilhação de ser capturado pelas tropas de Napoleão.
Com fama de glutão, e até mesmo apalermado, o regente português soube sair de uma enorme “sinuca de bico”.
O fato foi inédito, pela primeira vez na história ocorreu uma inversão metropolitana, com um império passando a ser comandado a partir de uma colônia.
Existe uma grande controvérsia em relação ao número de portugueses que embarcaram rumo ao Brasil. Alguns historiadores dizem que foram 15.700, outros afirmam que esse número é um tanto quanto exagerado. É mais um capítulo da história que dificilmente teremos a certeza absoluta dos fatos.
Ao todo, 16 embarcações lusas e 4 inglesas na escolta zarparam de Lisboa. Vieram, além da família real, inúmeros nobres com seus servos e empregados, ministros, juízes, dinheiro, documentos, móveis, livros, obras de arte e tudo mais que pudesse ser embarcado.
Viagem e Chegada ao Brasil
A viagem durou 54 dias, enfrentando a fome, água de má qualidade e tempestades, além de uma infestação de piolhos. A chegada ao Brasil foi em Salvador, no dia 22 de janeiro de 1808.
Já na capital baiana, onde ficou hospedado por um mês, Dom João decretou a abertura dos portos brasileiros a nações amigas. Neste caso, o foco era favorecer os ingleses, algo que já estava predeterminado. Também foram criados a Escola de Cirurgia (faculdade de medicina), uma Junta do Comércio e um teatro.
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No dia 07 de março, enfim, os nobres portugueses chegam ao destino final, o Rio de Janeiro, por onde permaneceram por cerca de 13 anos. Evidentemente, nosso país nunca mais foi o mesmo. O Período Joanino, como ficou conhecido esse trecho da história, em que a corte portuguesa viveu no Brasil, é o tema de nosso próximo texto.
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Publicado em 20.09.2018