155. Primavera Árabe: Síria, o Remédio Pior Que a Doença

Nosso último texto abordou a explosão de revolta que varreu o mundo muçulmano. Focamos nos primeiros países a vivenciarem a Primavera Árabe. Hoje, veremos outras nações duramente afetadas pelo problema.

Líbia

O terceiro país a entrar em convulsão social foi a Líbia. os protestos eram contra o ditador Muammar Khaddafi. no poder a incríveis 42 anos. Excêntrico, o governante apoiava grupos terroristas como o basco ETA e o Setembro Negro, responsável pela morte de atletas de Israel nas olimpíadas de Munique em 1972.  (Acesse os hiperlinks para saber mais)

Mu’ammar al-Kaddafi, líder líbio por 42 anos. Imagem: Internet

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A cidade de Benghazi, segunda maior do país, foi o epicentro da revolução. Países como os EUA exigiram a renúncia do ditador. Em resposta, veiculada em cadeia de televisão e rádio, Khaddafi desafiou, dizendo que só sairia do poder morto, como um mártir.

O país entrou em uma sangrenta guerra civil. Apoiados pela OTAN, os rebeldes conseguiram destituir o poder existente. Muammar Khaddafi foi morto em Sirte, cidade a leste da capital Trípoli, em outubro de 2011. A Revista Época fez uma reportagem sobre a sua captura e morte, confiram.

Assim como já ocorrido no Iraque de Saddan Hussein, após a morte do ditador a situação piorou no país. Líderes tribais iniciaram uma forte disputa pelo poder e o país mergulhou na violência. Para piorar, o Estado Islâmico se aproveitou da situação caótica e implantou fortes bases no território líbio.

Atualmente, o país tem dois governos oficiais, um no leste e outro no oeste, além de um número de milícias que impressiona, 1.700. Veja reportagem da BBC.

Atual situação da Líbia. Legenda no próprio texto abaixo. Imagem: internet

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O leste, de rosa, é comandado pelo governo baseado em Tobruk e seus aliados. De verde claro está a região dominada pelo Novo Congresso Geral Nacional e seus aliados. São os dois governos oficiais do país. Além deles temos o Estado Islâmico controlando o litoral que está na cor cinza, os Tuaregues na região amarela oeste e milícias locais dominando pequenas áreas em azul.

O país está bem distante da estabilização. Isso reverbera na Europa, já que a Líbia se tornou ponto de partida para imigrantes africanos rumo ao velho continente.

Síria

Entre todas as situações estudadas, a mais profunda crise se deu na Síria. Hoje, o maior conflito do mundo.

Em março de 2011, ano chave da Primavera Árabe, tiveram início em solo sírio protestos pacíficos pedindo reformas democráticas no país. Brutalmente reprimidas, as manifestações se transformaram em uma forte insurreição armada contra o presidente Bashar al-Assad, que estava no poder desde o ano 2.000. O detalhe é que ele é filho de Hafez al-Assad, no poder entre 1971 e 2000. Uma verdadeira dinastia.

Bashar Hafez al-Assad é médico, e assumiu o poder no país após as mortes de seu pai e seu irmão mais velho. Imagem: Internet

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A escalada da violência se deu em ambos os lados. A medida que as tropas do exército aumentavam o seu poder de fogo, os rebeldes se armavam para expulsá-los de suas regiões. No ano de 2012 a guerra chegou a capital Damasco e em Aleppo, segunda maior cidade do país.

Em meio a tanto sofrimento, despontou nos combates a Frente Al-Nusra, naquele momento afiliada a Al-Qaeda. O que já estava fora de controle piorou, com origem no vizinho Iraque, também entrou no conflito o temido Estado Islâmico (ISIS), se enraizando na cidade síria de Raqqa.

Outro forte grupo que também combate na região é o exército curdo (PKK ou peshmerga), que tem interesse em fazer seu próprio país e defender sua região contra o ISIS. O termo entre parênteses, que dá nome aos combatentes curdos, significa literalmente “aqueles que enfrentam a morte”.

Raqqa é a capital do estado islâmico – ISIS. REUTERS/Stringer

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Os EUA acusam Assad de ser responsável direto pelas maiores atrocidades cometidas no conflito e apoiam os curdos. Por sua vez, Rússia e Irã se alinham ao ditador sírio e seu exército, já que são grandes compradores de armamentos russos. Todos juntos, lutam contra o ISIS e a Frente Al-Nusra. O grupo terrorista Hezbollah também atua na fronteira com o Líbano. Um completo pandemônio.

CLIQUE PARA AMPLIAR. Este mapa nos mostra o quanto é confuso o conflito na Síria. Imagem: Internet

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Entre tantos conflitos já estudados, o da Síria realmente impressiona para quantidade de “players” envolvidos.

Sem nenhum exagero, absolutamente todos os ingredientes necessários para uma terceira guerra mundial estão presentes, com a presença das grandes potências mundiais no conflito. Ainda mais levando-se em consideração que temos Donald Trump (EUA) e Vladimir Putin (Rússia) a frente das duas maiores forças armadas do planeta apoiando lados opostos.

Cidade de Homs totalmente destruída. A família da minha avó veio desta cidade para o Brasil. Lastimável a situação atual. Imagem: Internet

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O conflito já chegou a 470 mil mortes até o presente momento (reportagem G1). Outro grave problema são as 4,5 milhões de pessoas que tiveram que deixar o país, além de 6,5 milhões que se deslocaram dentro da própria Síria. Uma catástrofe humanitária que perdura enquanto o mundo  finge que não vê.

Iêmen

No embalo da Primavera Árabe, este pequeno e pobre país da península arábica também se deteriorou. Uma disputa entre as duas grandes divisões do islamismo assolou o país.

Em 2015, os houthis, minoria xiita do país e apoiados pelo Irã, se insurgiram contra o presidente sunita Abdo Rabbo Mansour Hadi. A Arábia Saudita, país de maioria sunita, apoiou o governo iemenita.

 

Protesto violento dos Houthis. Imagem: BBC.

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O país serviu como um embate indireto entre as duas maiores potências muçulmanas. Uma guerra fria entre Irã (xiita) e Arábia Saudita (sunita). Inimigos dos iranianos, os EUA apoiam os árabes.

Um bloqueio aéreo, terrestre e marítimo, liderado pela coalizão saudita, impede que os iemenitas saiam do país, o que faz essa guerra não gerar muitos refugiados. Este fato diminuiu a visibilidade mundial do conflito, isolando o Iêmen da comunidade internacional. Cidadãos estão morrendo sem, sequer, ter  a chance de fuga.

O mapa nos mostra a divisão do país entre os Houthis, o governo e a Al Qaeda. Imagem site G1.

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O resultado foi a destruição do país, com mais de dez mil mortes confirmadas, fora 180 mil pessoas que tiveram que abandonar suas casas.

Sempre se alimentando do caos, células da Al Qaeda e o temido Estado Islâmico (ISIS) cresceram sua influência no país. Podemos dizer que é uma Síria em miniatura. Veja um especial sobre este conflito no site G1.

Outros países

Argélia, Jordânia, Omã, Djibuti, Somália, Sudão, Iraque, Barein, Kuwait, Marrocos, Mauritânia, Líbano, Arábia Saudita e Emirados Árabes também tiveram seus protestos. Menos intensos que os citados em nosso blog.

Clique para ampliar. Panorama geral de como a Primavera Árabe afetou todo o Oriente Médio e Norte da África, o mundo muçulmano. Imagem: Internet

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Algumas concessões foram conseguidas pelas populações desses países, a se destacar a possibilidade das mulheres votarem e serem eleitas nas eleições municipais de 2015 na Arábia Saudita. Muito pouco frente as enormes aspirações populares.

A Primavera Árabe, que se apresentou como grande esperança de avanços sociais e democráticos, se transformou em um remédio amargo. As transições costumam ser sempre indomáveis. Teremos que esperar como as inúmeras forças envolvidas irão se alinhar para criar um novo modelo de gestão para seus países. Isso ainda vai custar tempo e muitas vidas.

Espero ter aumentado seu conhecimento. Curta nossa página no Facebook e compartilhe nosso texto! Abraço do Clebinho!

Publicado em 21.03.2017