224. Revolução Francesa (Iluminismo)

Liberté, Egalité, Fraternité. Essas 3 palavras impulsionaram uma mudança drástica na França, libertando o país do poder déspota da linhagem monárquica. Abalou toda a Europa e até mesmo o mundo.

Contexto Histórico

Ao final do século XVIII a França estava mergulhada no que chamamos de Antigo Regime¹, governada por uma dinastia absolutista².

O país era dividido em 3 classes, cada uma com direito a um voto nas Assembleias Gerais, algo como nosso parlamento atual. O detalhe é que, naquele momento, as votações não eram convocadas desde o século anterior.

Clique para ampliar. Como era estruturada a desigual sociedade francesa do final do Século XVIII. Imagem: Internet.

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Os dois primeiros grupos eram privilegiados. O Primeiro Estado era representado pelo clero, a cúpula da Igreja Católica local (1% da população do país). O Segundo eram os nobres, donos de terras e a própria família real (2% da França).

O Terceiro estado era composto pelos burgueses, que naquela época eram diferentes do que chamamos de burguesia hoje, já que eram empreendedores, mas não necessariamente uma elite dominante como temos hoje. Também compunha esse grupo os camponeses e os Sans-culotte³.

À esquerda um nobre, vestido com o seu culote. À direita um sans-culottes, vestindo uma calça bem simples. Imagem: Internet.

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O problema é que, quando convocados, clero e nobreza sempre votavam juntos, com interesses em comum, já que o Estado era conectado diretamente a religião. Evidentemente, era uma união forças para manter seus privilégios frente aos outros 97% da população.

Como cada grupo tinha direito a um voto, o placar, invariavelmente era “2 x 1” para as elites estabelecidas.

Economicamente, a França adotava o mercantilismo, com forte acúmulo de capital, protecionismo e exploração das colônias. O modo de produção ainda era agrário, feudal.

Paralelamente e este difícil momento, uma nova onda varria a Europa.

Iluminismo

Desde o século anterior (XVII) um grupo de pensadores vinha revolucionando a forma de pensar na Europa, tendo influência direta na Revolução Francesa.

Em contrapartida a Idade Média, surgiu uma forma de pensar racional, onde o desenvolvimento intelectual era mais importante que a religião. Esses revolucionários se diziam portadores das luzes, que iriam iluminar a Europa que ainda vivia na escuridão, daí o surgimento do termo iluminismo.

Enormes avanços tecnológicos vieram a reboque dessa nova forma de pensar, ratificando a racionalidade como um caminho sem volta. A razão passou a ser valorizada, assim como a certeza da existência de leis naturais, tão bem decifradas por  Isaac Newton (1642 e 1727). A curiosidade e o questionamento se tornaram constantes. Levantar dúvidas sobre tudo era salutar, segundo os iluministas.

Os pensadores criticavam o status quo, em especial a Igreja católica e as benesses concedidas a nobreza e ao clero. Eram defensores da liberdade pessoal e da igualdade entre todos.

Os principais filósofos iluministas foram:

Voltaire, Rousseau e Montesquieu. Possivelmente, os 3 maiores teóricos iluministas. Imagem: Internet.

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Voltaire (1694-1778) Pseudônimo do francês François-Marie Arouet, crítico mordaz da Igreja Católica, por isso, foi preso e exilado várias vezes. Autor da famosíssima frase: Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.

Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) Foi o pensador mais contundente em relação a propriedade privada, da qual era frontalmente contra. Segundo ele, a partir da apropriação privada da terra, tiveram início a desigualdades entre os homens.

Montesquieu (1689-1755) Pseudônimo de Charles Secondat. Ficou pela ideia da separação total dos poderes, entre Legislativo, Executivo e Judiciário, forma como a maioria esmagadora dos países ocidentais funcionam atualmente.

John locke e Adam Smith. Imagem: Internet.

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John Locke (1632-1704) Inglês polêmico e paradoxal, defendia a tolerância, entretanto era um grande investidor no comércio de escravos, aos quais ele chamava de homens primitivos. 

Adam Smith (1723-1790) Pensador e economista escocês. Foi o grande defensor do liberalismo econômico.

Denis Diderot, a Enciclopédia  e Jean Le Rond d´Alembert. Imagem: Internet.

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Denis Diderot (1713-1784) e Jean Le Rond d´Alembert (1717-1783), franceses que organizaram uma enciclopédia que reunia os principais pensamentos da época. Diderot cunhou a famosa frase:  “O homem só será livre quando o último déspota for estrangulado com as entranhas do último padre”

O movimento não foi único, pipocando em vários cantos da Europa, numa avalanche de novos conhecimentos. Proeminentes figuras históricas como os norte-americanos  Benjamin Franklin (1706-1790) e Thomas Jefferson (1743-1826).

Não poderiam ficar de fora o alemão Immanuel Kant  (1724-1804), o inglês Thomas Hobbes (1588 – 1679) e o escocês David Hume (1711-1776) também importantes personagens do movimento, assim como tantos outros,  influenciando e sendo influenciados pelo próprio iluminismo.

Desigualdade e Pobreza

Além dos ideais iluministas, outros fatores serviram como combustível para a Revolução Francesa. Enquanto a maioria da população vivia na miséria, a nobreza gastava em luxo, sem piedade.

O povo passava fome enquanto a realeza promovia jantares e festas monumentais. Quem fosse contrário a monarquia era levado a uma prisão conhecida como a Bastilha, quando não era executado

Nem agricultura de subsistência podia ser praticada, já que quase toda a terra estava nas mãos do clero ou da nobreza.

A polêmica Maria Antonieta e o rei Luiz XVI, coroado em 1774. Viviam uma vida de extravagâncias, enquanto o povo morria na mizéria. Imagem: Internet.

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Para piorar a situação, o país havia travado mais uma guerra contra a Inglaterra (1756-1763) e auxiliado na Guerra de  Independência  dos EUA, já que era contra os rivais britânicos. A dívida pública estava enorme.

Como se já não fosse bastante, a França teve péssimas colheitas durante as décadas de 1770 e 1780, gerando diminuição de oferta e brusco aumento de preços, a temida inflação.

O monarca Luís XVI era tido como inapto ao cargo, incompetente e excêntrico.

Sem querer fazer uma comparação forçada, mas a Operação Lava Jato no Brasil expôs uma situação bem semelhante, guardada as devidas proporções. Enquanto a maioria dos brasileiros sofrem com pobreza, 50% sem acesso a saneamento básico, 11,9% desempregados, a classe política, nossa nobreza moderna, vive em palácios e mansões, promovendo festas, viagens e jantares em Paris. Tudo isso com dinheiro público.

Próximo texto

Como observado neste post, a situação na França era insustentável. Em nosso próximo texto o caldo vai entornar. Vamos acompanhar a revolução, suas milhares de mortes e enormes consequências.

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1 – Antigo Regime: foi um termo criado para demonstrar o rompimento provocado pela Revolução francesa em relação ao que existia antes. É caracterizado por um governo centralizador, com todo o poder nas mãos de um rei, que governava por direito divino.

2 – Absolutismo: Política onde o rei governa de forma absoluta, sem outros organismos paralelos. Está diretamente ligado ao Antigo Regime, que era absolutista.

3 – Sans-culotte: Literalmente traduzido para “sem calção”. O culote era uma espécie de calção, que ia até os joelhos, muito usados pela nobreza da época. Eram os trabalhadores, artesãos, desempregados e até mesmo pequenos proprietários de terra. Usavam calças compridas, vestimenta típica do público mais humilde daquela época.

Publicado em 28.11.2019