Em nossos textos anteriores abordamos a Regência, período tumultuado da história do Brasil. Após a revolta dos Malês e a Cabanagem, mais um problema eclode em nosso país, também no fatídico 1835. Dessa vez, a querela foi ainda mais complexa.
Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha (Set/1835 a Mar/1845)
É considerada a principal revolta do período regencial, já que durou uma década, ocorrida na província São Pedro do Rio Grande do Sul. Foi liderada pelos grandes proprietários de terras, indignados com a os impostos cobrados pelo governo imperial brasileiro sobre o couro e o charque, principais produtos do sul do Brasil.
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Para complicar ainda mais a situação, carnes e derivados vindos da Argentina e Uruguai entravam e nosso país com preços baixos, dificultando ainda mais a situação dos produtores nacionais.
Os farroupilhas¹ eram liberais, a favor de maior autonomia das províncias, além de serem republicanos. Na contramão desse desejo, o regente Feijó nomeou o moderado Antônio Rodrigues Fernandes Braga como presidente da província, destituído do poder Bento Gonçalves, homem da elite local.
Um ponto de grande importância foi a inspiração provocada pela Guerra da Cisplatina (1825-28), em que o Brasil saiu derrotado, culminando com a independência do Uruguai, antes anexado por nós. Como vizinhos, o Rio Grande do Sul também pleiteava se tornar uma nação.
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Parte dos revoltosos acreditava que somente a separação do Brasil poderia gerar um país com o qual sonhavam.
A soma de tantos fatores levou nosso país a mais uma guerra civil.
Tomada de Porto Alegre
Em setembro de 1835, liderados por Bento Gonçalves, uma tropa de cavaleiros entrou na capital, forçando a saída das forças imperiais. Ao longo de 1836 o movimento foi crescendo e os farroupilhas conquistaram várias vitórias sobre o exército imperial.
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Lembrem que no texto passado mostramos o que foi a Guarda Nacional, milícias locais com poder de forças armadas. Bento Gonçalves era o comandante desse efetivo na província rebelde. O líder do movimento foi preso em uma batalha, ainda assim, em 11 de setembro de 1836 foi proclamada a República Rio-Grandense, tendo ele como presidente. Em 1837, misteriosamente, o Bento Gonçalves fugiu de sua prisão na Bahia e reassumiu o seu cargo.
Nesse meio tempo, Feijó, regente do Brasil, abdicou de seu cargo, dando início ao último período da Regência, com Araújo de Lima. Vide texto 228.
A Brevíssima República Juliana
Com a ajuda do revolucionário Guiseppe Garibaldi, mais tarde um dos responsáveis pela unificação e criação da Itália que conhecemos hoje, a luta se expandiu para outros estados.
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Em julho de 1839, com a ajuda de Garibaldi, o general rebelde David Canabarro tomou a cidade de Laguna, criando no leste de Santa Catarina a República Juliana, em alusão ao mês do feito. O oeste do estado, naquele momento, pertencia à Argentina.
Em novembro do mesmo ano o império contra-atacou de forma violenta, com uso da marinha, cavalaria e infantaria, recuperando a região e extinguindo a independência da região.
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Um grande escândalo da época foi a fuga de Garibaldi com Ana, uma mulher casada lagunense, cujo marido havia se alistado nas forças imperiais. Essa mulher passou a ser conhecida com Anita Garibaldi, tendo permanecido ao lado do companheiro tanto no Brasil quanto nos conflitos na Itália.
O Fim do Conflito
A queda de Laguna marcou o inicio da decadência farroupilha.
Ao final de 1842, Luís Alves de Lima e Silva, que mais tarde ficou conhecido como o Duque de Caxias , foi nomeado presidente da província rebelde, com a missão de acabar de vez com o conflito. Os farrapos já passavam por uma intensa crise interna, com Bento Gonçalves renunciado ao cargo de líder do movimento.
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O Duque de Ferro, como Caxias ficou conhecido, endureceu o conflito. Batalha após batalha foi ganhando terreno. Com a vitória em mãos, impôs aos revoltosos uma proposta de paz. Após 10 anos de combate e quase 50 mil mortes, foi assinado um acordo no dia 1º de março de 1845, ficando conhecido como o Tratado de Poncho Verde .
Mesmo derrotados os farroupilhas conseguiram algumas vitórias no acerto. Todos foram anistiados, os escravos que lutaram pelo sul foram libertos, os oficiais farroupilhas foram incorporados ás forças imperiais e as terras confiscadas devolvidas. Além disso, duas demandas iniciais foram acatadas, a diminuição dos impostos naquela província e mais autonomia para o governo local.
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Na sequência de nosso blog as duas últimas revoltas da Regência, Sabinada e Balaiada. Mais guerras chegando por ai.
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1 – Farroupilhas: Não se sabe exatamente qual é a origem da palavra, usada no Brasil bem antes do conflito. Pode ter sido de farrapos, que é um tecido velho, ou farroupo, um porco pequeno.
O termo foi usado pela primeira vez em 1.700, quando alguns agricultores resolveram protestar pelas ruas do Rio de Janeiro contra algumas determinações da Câmara. Então o termo farroupilha se ligou a revolucionários. No século XIX era a designação dos liberais exaltados, que eram a favor da República.
Portanto, dizer que os sulistas eram chamados de Farrapos por causa de suas roupas pode ser uma inconsistência histórica.
Publicado em 02.04.2019