Nosso Blog já flertou várias vezes com esse importante momento de nossa história. Trouxemos a terrível Guerra do Paraguai e os grandes feitos do Barão de Mauá. Ainda assim, faltava um texto específico sobre o Segundo Reinado, período que definiu o Brasil como país.
Início
Tem como início o dia 23 de julho de 1840, quando foi decretada a maioridade de Dom Pedro II, mesmo aos 14 anos de idade. A pressa se deu pelos conflitos ocorridos na Regência, tema abordado em vários textos de nosso blog a partir do 228.
Política
Os partidos que comandaram o Brasil durante o 2º Reinado eram o Liberal e o Conservador, forjados no período regencial.
A disputa entre os dois partidos era tão intensa que gerava grande instabilidade no país. O imperador resolveu o problema de forma criativa, revezando o domínio do gabinete ministerial entre os dois lados, pacificando a disputa.
Os liberais se apoiavam nos comerciantes e profissionais urbanos (médicos, advogados, …), enquanto os conservadores eram mais ligados aos latifundiários dos plantations de café, que foi se consolidando como o grande produto de exportação do Brasil. Esses últimos eram favoráveis a um governo mais centralizado nas mãos do imperador, portanto também tinham grande apoio entre a burocracia governamental.
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No fim, a grande verdade é que os partidos lutavam pelo poder, sem grandes diferenças ideológicas. Algo que lembra muito a situação atual do Brasil, com raras exceções.
Dom Pedro II criou uma forma de governo inusitada, que ficou conhecida como parlamentarismo às avessas. Éramos uma monarquia parlamentarista, porém, o imperador, através do poder moderador, poderia dissolver a Câmara quando ela não lhe agradava. Também tinha a prerrogativa de trocar o 1º ministro (Presidente do Conselho de ministros), caso ele não se alinhasse aos seus interesses. Portanto, na prática, o governante escolhia o parlamento, não o povo.
Além de tudo as eleições eram tremendamente fraudadas, por ambos os partidos.
Economia
Em termos econômicos nosso país viveu o boom do café, fruto que encontrou por aqui solos férteis e clima favorável, em especial no Vale do Paraíba, entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Todo o processo foi catapultado pela mão de obra escrava. Outro motivo do nosso sucesso foi surfar uma boa onda de crescimento dos mercados consumidores norte-americano e europeu.
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A partir da segunda metade do século XIX a produção cafeeira se estendeu pelo território paulista, região da famosa “terra roxa¹”, além do Sul de Minas. Neste caso, a produção se deu com forte apoio da mão de obra imigrante.
Após a Tarifa Alves Branco, o Brasil teve seu primeiro surto industrial, interrompido mais à frente. Esse tema foi abordado em nosso último texto sobre o Barão de Mauá, confiram.
Revolução Praieira (1848-1850)
Essa foi a última das revoltas do Brasil Império, que começaram lá atrás, na Regência. Os insurgentes tinham como base ideias muito avançadas para a época, como o voto livre e universal, liberdade de imprensa, independência dos poderes e fim do poder moderador.
O levante ocorreu em Pernambuco, importante província nordestina. Como os liberais revoltosos tinham um jornal na rua da Praia, recebeu o nome de Revolução Praieira.
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Como percebemos antes, os liberais pernambucanos tinham demandas bem antagônicas em relação aos ideais da monarquia brasileira. Em 1848 veio o estopim, quando o Partido Conservador, dominante naquele momento, vetou a indicação do pernambucano Antônio Chinchorro da Gama a uma cadeira no senado
Assim como nas revoltas do passado, rapidamente as camadas mais pobres aderiram ao movimento, já que viviam em condições deploráveis, sendo qualquer mudança uma tentativa de melhoria. Os rebeldes chegaram a tomar a cidade de Olinda.
O contra-ataque imperial veio forte, reprimindo as forças pernambucanas, matando vários combatentes, prendendo e julgando outros. Foi uma grande demonstração de força para Dom Pedro II, que saiu em alta do conflito.
Escravidão
A Inglaterra era a grande potência da época, tendo enorme influência em tudo que ocorria por aqui. Em busca de mercados consumidores para seus produtos, os ingleses forçavam o fim da escravidão no Brasil.
Em 1845 os britânicos promulgaram a Lei Bill Aberdeen, autorizando seus navios a interceptarem embarcações negreiras mundo afora. Pressionado, o governo brasileiro criou a lei Eusébio de Queirós em 1850, proibindo o tráfico de escravos por aqui. Foi o primeiro grande passo para a abolição, ainda que os cativos continuaram trabalhando de forma forçada. Foi nesse momento que começaram a entrar imigrantes europeus no Brasil, fugindo da crise que assolava o velho continente.
A elite cafeeira fez de tudo para que o processo abolicionista se desse da forma mais lenta possível, se estendendo por 38 anos após o fim do tráfico negreiro.
A escravidão não era mais algo aceito no mundo civilizado e a pressão sobre o Brasil aumentou com o fim da Guerra do Paraguai (1870), onde vários negros lutaram e morreram pelo país. Em 1871 veio a Lei do Ventre Livre, também conhecida como “Lei Rio Branco”, que tornava livre todos os filhos de escravos. O problema é que a lei dava duas opções, ou o menino era entregue ao Estado com 8 anos de idade, com o seu Senhor sendo indenizado, ou ficava livre realmente aos 21 anos. Sendo assim, os fazendeiros podiam explorar a mão de obra do rapaz por quase duas décadas antes da alforria.
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Em 1887 veio a Lei dos Sexagenários, libertando todos os escravos que atingissem 60 anos de idade. Mais um embuste, dificilmente cidadãos livres chegavam a idades mais avançadas naquela época, muito menos os escravos.
A lei Áurea só veio, tardiamente, em 1888, através das mãos da Princesa Isabel. Uma vergonha para o Brasil, último país ocidental a abolir a escravidão.
Questão Christie
Não foi só a questão escravista que balançou as relações entre Brasil e Inglaterra. Em 1861, o embaixador inglês em nosso país, William Dougal Christie, protestou em relação ao não cumprimento de uma lei de 1831 que determinava a libertação de negros que chegassem ao Brasil. No ano seguinte, um navio britânico de nome Príncipe de Gales naufragou na costa brasileira, no Rio grande do Sul. Ao invés de ajudá-los, os locais saquearam toda a sua carga (Parece notícia atual).
Indignado, Chrintie exigiu uma indenização completa pelo roubo. Para piorar o clima que já estava tenso, no mesmo período um grupo de oficiais ingleses foram presos no Rio de Janeiro por causarem tumulto na cidade. O embaixador exigiu a exoneração dos policiais brasileiros envolvidos na prisão, além de um pedido oficial de desculpas a coroa britânica.
O Brasil não atendeu. Como vingança, navios ingleses, bem mais modernos que os nossos, tomaram posse de 5 embarcações brasileiras aportadas na Baia da Guanabara.
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Dom Pedro II foi firme, e convocou algo muito comum na época, um árbitro neutro de outro país para resolver a questão. O escolhido foi o rei Leopoldo I, da Bélgica, que decidiu a favor do Brasil, após termos pago a indenização pelo saque ocorrido aqui. Sem os pedidos de desculpas dos britânicos, rompemos relações com a maior potência mundial da época.
Em 1865, em meio a Guerra do Paraguai, enfim, os ingleses reconheceram o próprio exagero e as relações com o nosso país voltaram ao normal.
Guerra do Paraguai
Provavelmente, foi o maior acontecimento do Segundo Reinado, impactando de forma direta a história do Brasil posterior a ele (Vide próximo texto). Como o assunto já foi tema em nosso blog, é só conferir:
76. Guerra do Paraguai – A Virada de Caxias
77. Guerra do Paraguai – Devastação Total
Próximo Texto
Na sequência, abordaremos a decadência do império, com o fim do Segundo Reinado e a Proclamação da República.
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Publicado em 03.05.2019