Um dos conflitos mais intensos da década de 1990, reverberando até os dias atuais, foi a desintegração da Iugoslávia, país que se transformou em 6 novas nações, podendo chegar a 7.
Nosso blog mergulha neste assunto e tenta clarear os motivos dessa contenda, assim como o seu desenrolar. É um dos conflitos com origens mais antigas e complexas, necessitando de nós, mesmo escrevendo objetivamente, 3 textos. Leiam com atenção e observem as modificações presentes nos mapas históricos.
Uma mescla de culturas e religiões
Os Balcãs, como hoje é conhecida a região, é um local montanhoso no sudeste da Europa, englobando vários países como Albânia, Bósnia, Bulgária, Grécia, Macedônia, Montenegro e Sérvia. Também engloba partes da Croácia, Romênia, Eslovênia, Moldávia e a porção europeia da Turquia.
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Sempre teve uma importância histórica muito grande pois, estrategicamente, fazia a divisa entre os Impérios Romanos do Ocidente (capital em Roma) e o do Oriente ou Bizantino (capital em Constantinopla).
Após o Cisma do Oriente¹, ou seja, um racha na igreja, ocorrido no Século XI, os habitantes da região foram coagidos a optar por um dos lados. A parte ocidental ficou influenciada pelo catolicismo, obedecendo Roma. Já a parte oriental ficou sob domínio de Constantinopla (Antiga Bizâncio e atual Istambul), se tornando ortodoxos. Essa divisão entre os cristãos já foi tema em nosso blog, confiram.
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Para embolar ainda mais o meio de campo, no Século XV a região foi invadida pelo Império Turco-Otomano. Para assegurar-se da fidelidade das suas áreas ocupadas, eles obrigaram a população local à conversão ao islamismo. Inclusive a palavra Balcãs, denominação da cadeia de montanhas do local e da própria região, tem origem da palavra turca para montanha, local alto.
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O mosaico étnico estava armado e a região se partiu em 3 religiões diferentes e rivais entre si, o catolicismo (predominante entre eslovenos e croatas), a greco-ortodoxa (predominante entre os sérvios, montenegrinos e os macedônios) e o islamismo (majoritário entre os albaneses e os bósnios).
I Guerra Mundial
Teve início exatamente nesta região, tema abordado nosso texto 106. Neste momento da história, os Otomanos já haviam praticamente sido expulsos da Europa, e parte da região, em especial o lado mais ocidental, estava sob o domínio do Império Austro-húngaro, que saiu derrotado no conflito mundial. Livres, mesmo com diferenças étnicas, em 1918 a região conseguiu se estabilizar como uma nação, o Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos, que também incluía a região da Bósnia Herzegovina.
Mais tarde, essa entidade política veio a ser conhecida como Reino da Iugoslávia (eslavos do sul), uma colcha de retalhos étnicos, dominado pelos sérvios, etnia majoritária nesta nação.
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II Guerra Mundial
Durante a II Guerra mundial, mais problemas, a região foi invadida pela Alemanha Nazista (1941-1945). Libertados pelo exército comunista soviético, o país adotou o socialismo e entrou na esfera de influência da URSS.
O líder da resistência iugoslava, o guerrilheiro de esquerda do movimento Partisan², Josip Broz Tito, se tornou o grande líder do país, exercendo o poder de 1945 até a sua morte em 1980.
Tito, o homem que uniu a Iugoslávia
Filho de pai croata e mãe eslovena, Tito, implantou uma doutrina socialista própria, não alinhada com Stalin (URSS) e muito menos com o mundo ocidental. Liderou o Movimento Não Alinhado³.
Stalin inclusive levou para o lado pessoal, e tentou assassinar Tito em diversas ocasiões. Em uma delas, o líder iugoslavo teria respondido ao líder soviético:
“Pare de mandar pessoas para me assassinar. Nós já capturamos cinco deles. Um tinha uma bomba, e o outro um rifle (…) Se não parar de mandar assassinos, eu mandarei um para Moscou, e um segundo não será necessário. “
Sua ideologia era focada no sentimento de patriotismo e pela anulação dos aspectos religiosos dentro de seu país. Suas políticas internas incluíam a supressão do sentimento separatista e a promoção da irmandade e unidade entre as seis nações iugoslavas. Um dos principais objetivos era diminuir o poder dos sérvios frente as outras etnias.
Era um inovador, criou um socialismo diferenciado, onde permitia o lucro compartilhado. Com isso, empresas estatais passaram a ser propriedade de seus funcionários, algo impensado no mundo socialista daquela época. Era um bom jogador, soube usar muito bem a Guerra Fria a seu favor, hora recebendo ajuda dos EUA, hora da URSS.
Como exemplo de seu arrojo político, em 1967, aboliu o visto para se entrar na Iugoslávia, que se tornou o primeiro país socialista a abrir suas portas aos visitantes estrangeiros. No mesmo ano, atuou como mediador no conflito Árabe-israelense, ajudando a fechar um acordo entre os conflituosos vizinhos
Pela sua liderança independente, em uma época de Guerra Fria, amparado por um grande crescimento econômico, conseguiu projetar seu nome no cenário internacional.
No próximo texto:
A situação se complica, Tito morre em 1980 e o socialismo chega ao fim em 1989. As rivalidades étnicas voltam e chegam ao seu ápice. Lamentável, porem, o assunto é Imperdível!
Espero ter aumentado o conhecimento de todos os leitores. Curtam nossa página no Facebook e compartilhem nosso texto! Abraço do Clebinho!
1 – Cisma do Oriente: Nome do evento que separou a Igreja Católica em duas: Igreja Católica Apostólica Romana e Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, a partir do ano 1054. , quando os líderes da Igreja de Constantinopla e da Igreja de Roma excomungaram-se mutuamente.
2 – Partisan: É um membro de uma tropa irregular, formada para se opor à II Guerra Mundial para se referir a determinados movimentos de resistência à dominação alemã, principalmente no Leste Europeu.
3 – Movimento Não Alinhado: É uma associação de países formada após o aparecimento dos dois grandes blocos opostos durante a Guerra Fria, liderados pelas superpotências de então (EUA e URSS). Seu objetivo era manter uma posição neutra e não associada a nenhum dos dois lados.
Publicado em 26.08.2015