69. Transgênicos, Brincar de Deus?

Em nosso último texto, abordamos o uso exagerado de agrotóxicos no Brasil. Nosso tema de hoje continua no campo, em um assunto tão polêmico como o anterior, os transgênicos.

Transgênicos

São organismos, seres vivos modificados geneticamente para apresentarem vantagens em relação ao ser original. O novos organismos modificados em laboratório tem seu código genético  adulterado através da  introdução de uma ou mais sequências de DNA (genes), provenientes de uma outra espécie. Parece ficção científica, mas é uma realidade cada vez maior e presente em qualquer fazenda ou supermercado.

Por meio de um ramo de pesquisa relativamente novo (Engenharia genética), fabricantes criam sementes resistentes a agrotóxicos, com crescimento maior, mais rápido, mais nutritivas e em alguns casos resistentes a algum agressor.

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O algodão colorido é um melhoramento genético. Não chega a ser um transgênico mas é um exemplo de como a genética vem evoluindo. Veja mais no site da Embrapa.

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A empresa Norte-americana Monsanto é uma das maiores referências na agricultura e biotecnologia. Em 2018 foi comprada pela Bayer por US$ 63 bilhões. Por outro lado, também é uma das mais criticadas por causa dos pesticidas e transgênicos.

Como tudo começou?

Tudo teve início em 1972, a partir da descoberta do comportamento da Agrobacterium timafasciens, causadora de uma doença chamada galha de coroa. A bactéria insere parte dos seus genes na planta hospedeira, fazendo com ela passe a produzir um tumor que fornece alimento para a bactéria. Essa “transgenia” natural deu o pontapé inicial aos estudos.

Atualmente

Hoje, este ramo biotecnológico está bastante avançado. Um exemplo de como andam as pesquisas é o fato de já conseguirem introduzir genes inseticidas em plantas. Desta forma consegue-se que o próprio vegetal possa produzir resistências a determinadas pragas da lavoura. Este mesmo procedimento pode ser reproduzido contra uma infinidade de agressores.

Em 2013 ocorreu algo muito interessante. Cientistas turcos e norte-americanos criaram dois coelhos transgênicos brilhantes no escuro. Isso foi possível graças a uma proteína do DNA de água-viva. Não teve utilidade prática, mas foi primordial para o avanço das técnicas no setor. Saiba mais no site da Revista Exame.

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São infinitas as possibilidades dos organismos geneticamente modificados nos dias de hoje. Pode-se combinar genes entre variedades incríveis de seres vivos. Uma das modificações mais famosas dos últimos anos foi Arroz Dourado. O grão possui gene do milho e de uma bactéria, o que faz dele rico em vitaminas e betacaroteno. Pode ser a solução para milhares de pessoas na Ásia, com dieta baseada em arroz, mas escassa em vitamina A. Conheça mais em relação a este fato no site da Revista Carta Capital.

 

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Comparação visual entre o arroz comum (a esquerda) e o arroz dourado (a direita). Imagem retirada da internet.

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Crescimento avassalador

Os ganhos nas lavouras promovidos pelos transgênicos são indiscutíveis, fazendo que o uso deste produto esteja em franco crescimento em vários países. No Brasil, os transgênicos já  estão presentes nas laranjas, soja, milho, algodão, banana, alface, feijão, entre outros. Segundo pesquisas, mais da metade da área plantada no Brasil já é modificada. Saiba mais no Site Jornalismo Online.

Praticamente toda a soja, algodão e milho no Brasil são transgênicos. Imagem: Internet.

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O avanço dos transgênicos no campo brasileiro evidencia os pontos positivos dessa tecnologia. A produtividade das sementes modificadas são inigualáveis pela natureza.

Em 2005, foi aprovada  a Lei de Biossegurança Nº 11.105, regulando o uso de  transgênicos no Brasil. O detalhe é que, se existir a participação de OGM (Organismos Geneticamente Modificados) em pelo menos 1% do produto, deve estar presente em sua embalagem um selo com a letra T. Seja mais observador e perceberá que alguns produtos do nosso dia a dia possuem a marca abaixo.

O problema é a falta de fiscalização. Algumas empresas não colocam o selo, prejudicando a escolha do consumidor. Existem também alguns projetos de Lei com o objetivo de se retirar a obrigatoriedade do selo. O Congresso em algum momento irá decidir sobre este assunto e, com a  bancada ruralista em cima, corre o risco desta polêmica lei passar.

Polêmica, o lado negativo

Como toda novidade, os transgênicos causam muitas discussões e polêmicas. Coletei as 5 maiores probabilidades de problemas advindos dos Organismos Geneticamente Modificados:

  • Como algumas sementes OGMs são resistentes a insetos, pode ocorrer um desequilíbrio na natureza. A diminuição desses insetos pode levar a diminuição de pássaros, seus predadores, que também caçam outros insetos, que irão aumentar, bagunçando assim toda a cadeia alimentar;
  •  Como alguns OGMs são resistentes a agrotóxicos, pode haver uma maior aplicação dos venenos, que não afetará a planta. O problema é que nós, consumidores, poderemos ser afetados ao nos alimentarmos;
  • Não é possível separar as culturas convencionais das transgênicas, pois os grãos de pólen podem percorrem distâncias na ordem dos metros , sendo possível haver uma disseminação dos grãos de pólen das plantas modificadas para as plantas naturais. Seria a contaminação da natureza pelo DNA de um ser vivo não natural. A médio prazo, poderemos não ter mais o ser vivo original na natureza.
  • Um dos maiores problemas é a questão das alergias. Como são alimentos inéditos na natureza, não se sabe exatamente o que podem provocar em quem os consumir;
  • Como alguns OGMs são resistentes a determinadas bactérias,  podem provocar um fortalecimento nas mesmas, criando uma seleção natural e uma colônia de bactérias mais fortes.
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Chamados produtos-T. Por hora, ainda não existe nenhuma prova de que os transgênicos fazem mal ao ser humano. Imagem: Site 350.org

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A grande verdade é que os transgênicos trouxeram grandes avanços para a produção de alimentos e podem ser a solução para a fome mundial nos países mais pobres. Por outro lado, também criaram grande controvérsia entre os ambientalistas, por produzir algo não natural, podendo desequilibrar o meio ambiente, já tão devastado por nós.

Uma das ONGs ambientalistas mais famosas e atuante do mundo é totalmente contra, veja mais no site do Greenpeace.

Seria a prática de criar Organismos Modificados Geneticamente uma forma de brincar de Deus? Fabricando e cruzando genes de espécies diferentes? Criando seres nunca vistos na natureza?

A resposta definitiva vai demorar um bom tempo para ser encontrada, por enquanto ficamos na discussão. É fácil provar que um alimento faz mal, pois as pessoas apresentam problemas, por outro lado, provar que não faz  mal algum é difícil, demora anos de observação, testes e  pesquisas.

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Publicado em 16.09.2015

Revisado em 31.07.2019