A Guerra Fria pode ser conceituada como o período que vai desde o fim da 2º Guerra Mundial até a queda do muro de Berlim, tema já abordado em nosso blog. Se caracterizou pela disputa entre os EUA (Estados Unidos da América) e a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) pela hegemonia mundial.
Em nenhum momento as duas grandes potências se enfrentaram diretamente, daí a origem do nome, Guerra Fria. Porém, diversas guerras e milhares de pessoas morreram a partir de manobras de bastidores efetuadas pelos dois gigantes. Isso ocorreu na Guerra da Coreia, do Vietnã e na invasão soviética ao Afeganistão, além de inúmeros outros conflitos e guerras civis.
Essa disputa mobilizou todo o planeta, não só no âmbito bélico, mas também nos aspectos cultural, econômico, esportivo, ideológico e até mesmo espacial, já que, chegar primeiro a lua era o grande prêmio. A maioria dos países teve que escolher seu bloco, capitalista ou socialista.
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Como as duas superpotências possuíam tecnologia nuclear, o mundo vivia no limiar de uma hecatombe atômica. O clímax da tensão ocorreu em 1962, em um evento denominado “A crise dos mísseis em Cuba”.
Em nenhum momento da história humana, o mundo esteve tão próximo da 3º Guerra Mundial como em outubro daquele ano.
Cuba escolheu seu lado
Em 1959, a pequena ilha do Caribe passou por uma intensa revolução, se tornando socialista e escolhendo o seu lado do conflito, tema abordado em nosso blog.
Dois anos depois, os norte-americanos, na figura de seu serviço secreto (CIA), treinou um grupo de 1.400 exilados cubanos com a missão de invadir Cuba e dar o troco em Fidel, tornando o país um aliado dos EUA novamente. Esse evento foi um grande fracasso, com as forças de Fidel aniquilando os invasores. Essa trapalhada yankee ficou conhecida como a Invasão da Baía dos Porcos.
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No mesmo ano, com a Guerra Fria no auge, os EUA instalaram mísseis nucleares na Inglaterra, Itália e Turquia, países aliados e membros da OTAN¹. Isso revoltou os soviéticos, principalmente em relação a Turquia, país majoritariamente asiático e muito próximo do território comunista. A partir do solo turco, a URSS poderia ser atacada com armamento atômico.
Os dois eventos, a intervenção em Cuba e a instalação dos mísseis na Turquia não passariam despercebido. A contrapartida soviética viria de imediato.
13 dias de arrepiar
Em 14 de Outubro de 1962, um voo espião de um avião U-2, norte-americano, fotografou o que parecia ser cerca de 40 silos construídos, possivelmente, para abrigar mísseis nucleares em Cuba. Confirmada a notícia, soou como um soco da cara dos norte-americanos, já que a ilha está localizada a cerca de 150 Km do território yankee.
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No dia 15, o assessor especial para Assuntos de Segurança Nacional, McGeorge Bundy recebeu o relatório. Na manhã do dia 16, o presidente John F. Kennedy foi informado e um comitê de crise foi formado. Nova Iorque, Washington, Miami e várias metrópoles norte-americanas poderiam ser, em pouquíssimo tempo, pulverizadas por essa nova ameaça.
Por sua vez, o primeiro ministro da URSS, Nikita Kruschev, afirmou que a colocação dos mísseis era meramente defensiva, para impedir qualquer nova intervenção dos EUA em seu aliado caribenho.
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O governo dos EUA então, bloqueou o Atlântico e afirmou que iria afundar qualquer embarcação soviética com destino a Cuba. Se isso realmente acontecesse, seria uma agressão direta entre os dois gigantes, a Guerra Fria chegaria ao fim e se iniciaria, provavelmente, uma nova Guerra Mundial, dessa vez com tecnologias capazes de riscar cidades do mapa.
Começou a contagem para o armagedom nuclear. Inúmeros norte-americanos correram para construir alojamentos anti-nucleares e estocar alimentos, pânico generalizado.
Por 11 dias, nenhuma grande novidade entre as potências ocorreu, enquanto navios soviéticos se aproximavam. Até que no dia 26, na iminência do conflito, uma inesperada mensagem, escrita a mão, e sem o conhecimento do partido comunista soviético, chega as mãos de Kennedy. O presidente Kruschev escreveu:
“Entendemos perfeitamente que, se atacarmos vocês, vocês responderão da mesma forma. Somos pessoas normais, que compreendemos e avaliamos corretamente a situação. Só lunáticos e suicidas poderiam agir de outra forma. Não queremos destruir seu país, mas sim, apesar das nossas diferenças ideológicas, competir pacificamente, e não por meios militares. Somente um louco é capaz de acreditar que as armas são os principais meios de vida de uma sociedade. Se as pessoas não mostrarem sabedoria, elas entrarão em confronto, e a exterminação recíproca começará.”
Pela mídia, obviamente jogando para o seu público, o líder soviético não era tão bonzinho e exigia que os EUA afirmassem, oficialmente, que nunca invadiriam Cuba, além de retirar os mísseis da Turquia. Pelo menos uma chance para a paz havia surgido.
No dia 27, uma reviravolta cruel. A situação piorou e o dia ficou conhecido como “sábado negro”. A guerra parecia irreversível, quando um avião norte-americano foi abatido em espaço aéreo cubano. O Pentágono já havia inclusive escolhido os alvos prioritários em um eventual conflito armado. Em todos os 13 dias de agonia (16 a 28 de outubro de 1962), este foi o mais tenso.
Durante a noite, o governo dos EUA enviou uma mensagem a todos os membros da OTAN:
“A situação está ficando urgente. Dentro de um prazo muito curto, nosso país pode considerar necessário adotar uma ação militar em nome de seus próprios interesses e dos interesses das nações aliadas no Hemisfério Ocidental.”
Na manhã seguinte, enquanto o mundo se preparava para o início do apocalipse, Nikita Kruschev fez um pronunciamento inesperado a rádio Moscou, anunciando que qualquer armamento nuclear presente em Cuba seria devolvido a URSS.
Ufa! O mundo não iria acabar.
Oficialmente, nunca se soube o que ocorreu naquela madrugada em Moscou. Aparentemente um acordo foi fechado entre os dois países que retiraram os mísseis localizados em seus aliados, Turquia e Cuba.
Um filme foi produzido sobre este assunto, denominado “Os treze dias que abalaram o mundo”, estrelado por Kevin Costner.
Consequências
O susto foi tão grande que, em 1963, as duas superpotências assinaram um acordo limitando os testes nucleares. Em 1968, EUA, URSS e outros 58 países assinaram o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares. Quem já dominava a tecnologia nuclear limitaria seu arsenal, quem não possuía se comprometeu a nunca desenvolver. O Brasil é signatário deste tratado.
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Que nunca mais se repitam dias como estes! Feliz 2016 a todos os nossos leitores!
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Publicado em 30.12.2015
1- OTAN ou NATO ((North Atlantic Treaty Organization):
É uma organização criada após a 2º Guerra Mundial, no contexto da Guerra Fria, onde todos os membros se comprometem com a defesa mútua em caso de alguma ação hostil de um país fora do bloco. Atualmente seus membros são:
Alemanha Bélgica, Canadá, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos da América, França, Grécia, Países Baixos, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Portugal, Reino Unido, Turquia, Hungria, Polônia, República Checa, Bulgária, Estônia, Letônia, Lituânia, Romênia, Eslováquia e a Eslovênia.