Em nossos últimos textos focamos diferentes matrizes energéticas. Abordamos incríveis hidrelétricas, com destaque para Itaipu, a maior do Brasil.
Dentro desta notável temática iremos abordar a construção de outra gigante, chamada de Belo Monte, geradora de grandes discussões e polêmicas.
O projeto
Inicialmente o nome da usina seria Kararaô, ainda no ano de 1975. Em meio ao período militar, as dimensões do projeto eram bem maiores que da atual Belo Monte.
Naquela época, a indecorosa proposta previa cinco barragens no rio Xingú e uma no rio Iriri. Se fosse concretizado, o plano inundaria inclusive o Parque Nacional do Xingu, criado no curto governo de Jânio Quadros (1961).
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Uma hidrelétrica com potência instalada de 20.000 MW seria criada, bem mais potente que Itaipu, com seus 14.000 MW. Uma descomunal obra na Amazônia.
A obra iria alagar inacreditáveis 18 mil Km², área superior ao desmatamento anual da Amazônia.
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Por sorte ou azar, dependendo do ponto de vista, o projeto não vingou. Com uma economia em crise durante a década de 1980, Kararaô foi engavetada. Soma-se a isso as construções de Itaipu e Tucuruí, que nos deram um grande conforto energético.
Renascimento
Em 1989, a ideia ressurgiu, revoltando os índios da região. Em fevereiro, durante o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, em Altamira, uma a índia kaiapó, Tuíra, pegou um facão e avançou sobre um mandatário da Eletronorte, empresa que tocaria o projeto. A situação ficou tensa e as obras novamente atrasam.
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Em 1994, um novo projeto surge, dessa vez mais modesto. Ao invés de 6 usinas, somente uma, diminuindo drasticamente o tamanho da barragem. O nome a partir de então passou a ser Belo Monte, referente a primeira das grandes barragens que estavam no projeto inicial. Com uma preocupação ambiental maior, a nova área inundada seria 1,22 mil Km², bem menor que o projeto mãe.
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Uma batalha judicial tem início. A pedido das lideranças indígenas, o ministério Público Federal resolveu investigar, encontrando várias irregularidades na proposta, emperrando novamente o início da construção.
Em 2001 um evento impulsiona de vez a construção da barragem. Uma grave crise de abastecimento de energia assolou o Brasil. A falta de investimentos no setor levou a uma falha na distribuição de eletricidade, episódio que ficou conhecido como “apagão”. Veja mais sobre este momento dramático de nossa história no site Brasil Escola.
Neste cenário complicado, várias concepções de geração de energia, antes sepultadas, renasceram, e Belo Monte ganhou força.
Em 2008, por pressão dos ecologistas, o projeto foi novamente modificado e a área dos reservatórios foi reduzida de 1, 22 mil km² para a 503 km², dos quais 228 km² (45%) correspondem ao leito original do Xingu nos períodos de cheia. A redução total dos reservatórios foi de 60% em relação aos planos da década de 1990.
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O projeto se tornou mais aceitável ambientalmente, pois não irá inundar terras indígenas, apesar de afetar o cotidiano de quem depende do rio para viver.
No mesmo ano, um episódio chamou a atenção de todo o Brasil. Indignados, índios feriram um engenheiro da Eletrobrás em um debate sobre a usina. Veja o site Youtube.
Construção
Extremamente pressionado pelo governo, o IBAMA liberou a licença ambiental para a construção da usina.
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A usina foi leiloada em 2010 por R$ 25,8 bilhões para a empresa Norte Energia S.A., responsável pela construção e operação da hidrelétrica. Em 2011 o IBAMA liberou a licença para a supressão de vegetação. A Obra teve inicio. Em seu auge, gerou 20 mil empregos diretos e 40 mil indiretos na região.
Veja a cronologia completa no site Tiki- Toki
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Entre greves de funcionários, protestos, multas, ações na justiça, ocupação de rodovias por índios, protestos de artistas e personalidades, ações da polícia, ameaças do ministério público, prostituição, suspeitas de superfaturamento, corrupção e muito mais, a usina enfim começou a funcionar em maio de 2016. Veja no site da Revista Época.
Por enquanto, somente uma das 24 turbinas previstas está em funcionamento. Outras 23 estarão operacionais até 2019. Funcionando em potência máxima, com 11 mil MW, ela é a 2º maior hidrelétrica do Brasil, 3º maior do mundo.
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O detalhe é que, com a grande diminuição do tamanho da represa, a usina não atua com potência máxima (11 mil MW) o ano todo, mantendo uma média de 4.5 mil MW. Ainda assim, é a 3° maior do Brasil.
Moradores locais, realocados, indígenas, funcionários das empreiteiras e até mesmo deputados europeus reclamaram.
Artistas, principalmente da Rede Globo, participaram em 2011 de um vídeo pedindo o fim das obras em Belo Monte. Assista no site Youtube.
Somente o Ministério Público Federal (MPF) promoveu 26 processos contra o licenciamento da usina. Uma das maiores polêmicas das últimas décadas.
Em meio a polêmica, destacamos o que de positivo e negativo Belo Monte nos apresenta. Para maiores detalhes, leia também nosso texto 124 – “A Poderosa Energia Hidrelétrica”.
Pontos contra a construção de Belo Monte:
- Como toda Hidrelétrica, poderá comprometer o rio após a represa, já que muda o fluxo de água.
- Ecologistas dizem que usinas de pequeno porte, com inundações menores, poderiam suprir a demanda energética nacional.
- Como a hidrelétrica não terá eclusas, impedirá o transporte hidroviário.
- Mesmo com o tamanho reduzido, perderemos vegetação para a represa.
- A hidrelétrica vai afetar os igarapés, regiões próximas aos rios.
- Agricultores perderam suas áreas de cultivo.
- O projeto pode levar algum desenvolvimento ao local, o que seria ótimo, porém isso pode aumentar a pressão sobre os índios da região.
- 20 mil pessoas foram deslocadas de suas moradias.
Pontos a favor da usina de Belo Monte:
- A usina tem um potencial de 11 mil MW,o que pode abastecer 60 milhões de pessoas. Mesmo produzindo na média, 4.5 mil MW, abastece mais de 20 milhões. Isso coloca o Brasil com grande folga em termos de eletricidade.
- A energia hidrelétrica é considerada uma fonte limpa e renovável.
- A obra pode ajudar a desenvolver as cidades localizadas no entorno da usina, além de levar investimentos para a região Norte, uma das mais pobres do Brasil.
- A área próxima a usina já estava bem devastada antes do início do projeto, não sendo, então, culpa do empreendimento.
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Foi uma decisão difícil de ser tomada. Agora que está pronta, não tem mais volta e a polêmica em relação a sua construção se torna algo aparentemente menor. Mas é importantíssima a discussão, já que ainda existem outros projetos semelhantes na Amazônia. As querelas não acabarão em Belo Monte.
Espero ter aumentado seu conhecimento. Curta nossa página no Facebook e compartilhe nosso texto! Abraço do Clebinho!
Publicado em 13.07.2016
Excelente informações, ajudou muito! Obrigada