Em nosso blog já elaboramos textos sobre hidrografia, inclusive mostrando que apenas 0,3% da água doce do planeta está disponível para nós na superfície, em forma de rios e lagos. (Texto 62)
Nosso post de hoje dá prosseguimento ao tema, abordando um dos maiores problemas da atualidade, a forma como os seres humanos vem agredindo seus rios. Mesmo sabendo que são nossa melhor e mais barata fonte de água potável, a prática continua.
Sem piedade, jogamos a maior parte de nossos esgotos domésticos nos cursos d’água. Isso provoca a mortandade de peixes, por falta de oxigênio, além da proliferação de uma lista enorme de doenças.
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As indústrias agravam bastante o problema, despejando nos rios e esgotos toda uma tabela periódica de elementos químicos. Com uma fiscalização falha, esses crimes ambientais continuam impune no Brasil.
Outros grandes poluidores são as atividades agrícolas. Agrotóxicos e fertilizantes lançados nas plantações escorrem para os cursos d’água.
Todas essas atividades aumentam a quantidade de nitrogênio e fósforo nos rios, provocando a proliferação de uma superpopulação de algas, causando a eutrofização¹ das águas.
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Enquanto a Inglaterra investiu na despoluição do Tâmisa e a França na do Sena, no Brasil, o problema parece não ter solução. Em Belo Horizonte, por exemplo, o poluído Rio Arrudas vem sendo tampado ao invés de despoluído. Se por um lado promove mais pistas de rolamento para veículos, não deixa de ser a perfeita concretização do termo “varrer o problema para debaixo do tapete”.
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Nos últimos meses, quem sofreu foi o já deteriorado Rio Doce, que recebeu milhares de toneladas de resíduos da mineração, após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana.
Um rio poluído perde totalmente sua função social de fornecimento de água, como também a ambiental. Um desastre completo.
Saneamento básico
Somente 48,6% dos brasileiros tem acesso a coleta de esgoto. O número realmente impressiona, já que nem chega a metade dos cidadãos do país. Do total coletado, outro problema, somente 40% é tratado, o restante é lançado nos rios, sem o menor pudor.
Veja um acompanhamento completo sobre o saneamento no Brasil no interessante site Trata Brasil.
Rios mais poluídos do Brasil
Não existe uma lista oficial, já que a quantidade de candidatos de avoluma. Vamos então nos concentrar em uma pesquisa feita pelo IBGE, que através do Índice de Qualidade da Água, fez um ranking dos rios em situação mais crítica:
1° Tietê (SP)
Com 690 toneladas de esgotos lançados em seu curso diariamente, o rio que atravessa a cidade e o estado de São Paulo lidera a lista.
2° Iguaçu (PR)
Importante rio do Estado do Paraná, já inicia sua Via Crucis próximo de suas nascentes, ao passar pela Região Metropolitana de Curitiba.
Completam a lista:
3 – Ipojuca (PE)
4 – Rio dos Sinos (RS) Passa pela região metropolitana de Porto Alegre
5 – Gravataí (RS)
6 – Rio das Velhas (MG) Recebe as águas do Arrudas
7 – Capibaribe (PE) Passa pela região Metropolitana de Recife
8 – Caí (RS)
9 – Paraíba do Sul (RJ, MG e SP)
10 – Rio Doce (ES e MG)
Mundo
Não é exclusividade nossa o descaso com os rios. Vários outros países do mundo também poluem seus cursos d’água sem piedade.
Assim como no Brasil, não existe uma lista oficial de quais são os mais poluídos, mas alguns nomes se fazem presentes em quase todos os rankings.
São presenças constantes nas listas o Tietê, o Amarelo (China), Marilao (Filipinas), Riachuelo (Argentina), Karachay (local de despejo de lixo nuclear na Rússia), Yamuna e Ganges (Índia), entre outros.
Entre tantos nomes, um rio é o grande destaque negativo, conhecido por ser o mais poluído do mundo, na visão da maioria dos especialistas, o Citarum, na Indonésia.
Rio Citarum
O rio que nasce nas encostas do Monte Wayang, na Ilha de Java. Antes, era fonte de água para um grande número de indonésios. Hoje, é considerado mais poluído que o Tietê.
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Após sofrer uma industrialização desenfreada na década de 1980, a Indonésia perdeu o controle em relação aos seus cursos d’água. Mais de 500 indústrias se instalaram as margens do Citarum, a maioria da poluente indústria têxtil, que lança em suas águas todo o refugo da produção de tecidos. O rio então fica azul, vermelho, verde, preto, dependendo da coloração da tinta utilizada naquele momento.
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Se contarmos todas, mais de duas mil indústrias, direta ou indiretamente, poluem o rio.
Próximo a sua foz, o rio passa nas redondezas da capital indonésia, Jacarta, e toneladas de esgoto doméstico são despejadas em seu leito.
Veja este impressionante vídeo no site YouTube: “O rio mais poluído do mundo – Citarum”. A brasileira Rede Record também fez uma reportagem sobre este desastre, confiram.
A situação é tão desesperadora que o Citarum está sendo associado a aumento de taxas de câncer, doenças de pele e doenças mentais. Mesmo poluído, é fonte de abastecimento de água para 5 milhões de pessoas.
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Segundo as estimativas, seriam necessários US$ 4 Bilhões, investidos em um período de 15 anos, para se modificar esta realidade e despoluir o Citarum.
Assim como o Tietê e a Baía da Guanabara por aqui, não parece ser prioridade do governo Indonésio esta intervenção.
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Para finalizar, vale lembrar que, assim como no Brasil, grande parte do problema passa pelos hábitos pouco educados da população que joga, diariamente, lixo, sofás, colchões, e toda lista de entulhos nos rios. Passa por cada um de nós a conscientização neste sentido. Não adianta o governo limpar e sujarmos novamente.
Espero ter aumentado seu conhecimento. Curta nossa página no Facebook e compartilhe nosso texto! Abraço do Clebinho!
1 – Eutrofização: (termo vindo do grego que significa bem nutrido) é um processo em que ocorre um aumento na concentração de nutrientes (principalmente fósforo e nitrogênio) em ambientes aquáticos, tais como rios e lagos. Essa fato promove o aumento de determinadas espécies e diminuição de outras.
Dentre as espécies que mais se reproduzem em ambientes eutrofizados estão as algas, cianobactérias e bactérias aeróbias. Isso diminui drasticamente a oxigenação da água e aumenta a mortandade de peixes.
Publicado em 31.08.2016