Em nosso último texto abordamos a polêmica proposta de Donald Trump para se construir um muro entre os EUA e o México. O post de hoje nos mostra que construir barreiras entre países está se tornando algo comum. Outros países, partidos, pessoas e grupos ainda acreditam nessa solução reducionista.
Israel e Palestina
Conflito antigo e de solução complexa, tema em nosso blog. Nas últimas décadas, o governo israelense optou pela construção de um muro na fronteira com cidades palestinas. O objetivo anunciado é diminuir a entrada de terroristas nas cidades judaicas, além de dificultar a ação de atiradores externos. O detalhe é que esses muros confinam os palestinos em uma área bem menor que a destinada a eles na partilha proposta pela ONU em 1947.
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O muro, idealizado pelo falecido presidente Ariel Sharon, começou a ser construído em 2002 e já está com cerca de 70% das obras concluídas.
Espanha e Marrocos
Apesar de separados pelo estreito de Gibraltar, os dois países enfrentam problemas de fronteiras. Também tema em nosso blog, o país europeu possui dois enclaves na África. São cidades espanholas, Ceuta e Melilla, cercadas pelo território marroquino. O resultado são inúmeras tentativas de entrada de imigrantes ilegais, em busca de melhores oportunidades em um local onde circula o Euro como moeda.
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Como são territórios pequenos, funcionam como fortalezas, impedindo a entrada de africanos, mesmo estando na África. Uma realidade chocante.
Como estas questões já foram abordadas em nosso blog, vamos focar em um problema inédito por aqui, a questão cipriota:
Chipre
A República do Chipre é um dos menores países do mundo (167º), com apenas 9.251 Km². Menos da metade que nosso menor estado, Sergipe (21.910 Km²). É a terceira maior e mais populosa ilha do Mar Mediterrâneo, estando localizada bem próximo da Turquia, Síria e Líbano. Possui uma população pequena, de apenas 1,1 milhão de habitantes, menor que várias metrópoles brasileiras. Quem nasce no país é cipriota.
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Ao longo de sua rica história, a pequena ilha fez parte de importantes impérios: Assírio, Egípcio, Persa, Grego, Bizantino, Otomano, até se transformar em um protetorado¹ britânico em 1878.
No ano de 1960, enfim, a ilha conseguiu a sua independência. O que parecia ser início de uma bela caminhada se transformou em um grande problema.
Naquele momento da história, 80% da população da ilha era de origem grega cristã ortodoxa, enquanto os 20% restantes eram de origem turca muçulmana. A partir de 1964 os conflitos entre os dois povos começaram, tendo sido necessária a intervenção da ONU. Cerca de 5 mil pessoas perderam suas vidas nos embates.
Em plena Guerra Fria e gozando do apoio norte americano, a Turquia invadiu a ilha em 1974, objetivando proteger a minoria turca local. Os EUA não podiam perder um aliado localizado tão próximo ao território soviético. Sendo assim, a Turquia não foi incomodada pelo mundo ocidental. O Chipre foi dividido, ficando um terço para os turcos e dois terços para os gregos.
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Em 1983 o lado turco se auto proclamou a República Turca do Norte de Chipre, país reconhecido somente pela Turquia. A partir de então, a divisão entre os dois lados se tornou oficial. Uma fronteira foi traçada cortando o país, dividindo até a mesmo a capital Nicósia. A faixa que marca a secessão, formada por barricadas, arames farpados, latões, sacos de areia e postos de controle, ficou conhecida como “Linha Verde”.
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Não é um muro como o de Berlim, mas tem um significado bem parecido. Os próprios cidadãos do lado turco mantêm as barreiras de pé, já que o lado grego não reconhece a divisão. Dando suporte a eles, o governo turco posiciona 40 mil soldados na ilha e incentiva migração para o local, inflando o tamanho de sua comunidade frente a grega.
Durante décadas não era possível atravessar de uma comunidade para a outra. Atualmente, existem 5 pontos onde se pode circular entre os dois lados, três na capital e dois em outras localidades.
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Quem controla essa fronteira são tropas da ONU. Na capital, uma longa faixa de casas e comércios teve que ser desocupada para dar lugar a linha verde desmilitarizada, como uma zona neutra entre os dois povos. O site G1 fez uma interessante reportagem sobre esta região fantasma de Nicósia, confiram.
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O que dificulta ainda mais a solução do conflito é o fato do Chipre estar na União Europeia e a Turquia não, fazendo com que as duas comunidades presentes na ilha fiquem ainda mais distantes. São diferentes na língua, crença e economia.
Além de tudo isso, o Reino Unido (sempre ele) ainda mantém o domínio sobre duas porções das ilhas, pequenos enclaves em azul no mapa abaixo. Somado a invasão turca, algo inusitado aconteceu, um requintado resort (Varosha) ficou isolado e se tornou uma local fantasma, mesmo tendo areia branca e um mar maravilhoso a sua frente. Celebridades como Brigitte Bardot e Elizabeth Taylor frequentaram o local. Confira em uma reportagem da BBC.
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Mesmo sendo um problema aparentemente pequeno, coloca na mesa players poderosos militarmente como a Turquia. Próximo a países já em guerra como a Síria.
Com negociações que não chegam a lugar algum, a questão cipriota impressiona. Os seres humanos parecem realmente ter dificuldades em conviver com o diferente.
Muros pela Europa
Para finalizar o tema, nos últimos anos, com a chegada de milhares de imigrantes ilegais na Europa, várias barreiras estão sendo construídas no velho continente.
A Hungria, participante da União Europeia, pretende fazer uma cerca de 4 metros de altura na sua fronteira com a Sérvia, nação fora do bloco. Serão 175 Km de barreiras físicas, tentando impedir a entrada de muçulmanos, a maioria vinda áreas de conflito como a Síria.
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Outros dois membros do bloco europeu, Bulgária e Grécia, também pretendem fazer muros em suas fronteiras com a Turquia. Na França, uma grande barreira será construída no porto de Calais, por onde imigrantes tentam entrar no Reino Unido.
A globalização, que prometia uma maior integração entre os povos, parece mesmo estar chegando a uma fase de reavaliação.
Espero ter aumentado seu conhecimento. Curta nossa página no Facebook e compartilhe nosso texto! Abraço do Clebinho!
1- Protetorado: refere-se a um território autônomo que é protegido diplomática ou militarmente contra terceiros por um Estado ou entidade mais forte.
Publicado em 21.02.2016