Como é de conhecimento geral, o Oriente Médio e o Norte da África são duas regiões bem complexas. Ricas em petróleo e pobres em democracia. A maioria esmagadora dos países presentes no que chamamos de “mundo árabe” são governados por famílias ou grupos ditatoriais. A soberania popular passa longe dessas nações.
Pelos últimos acontecimentos, parece que as coisas estão mudando, de forma rápida e bem violenta. Nem sempre para melhor.
Ao final de 2010, revoluções internas eclodiram nos países da região, e até os dias de hoje reverberam de forma muito intensa em todo o planeta. Greves gerais, desobediências civis, manifestações de rua (violentas ou não), comícios inflamados e o uso das mídias sociais foram as formas encontradas para se clamar por mudanças. Em alguns países a situação saiu do controle, mergulhando suas populações em guerra civil.
O nome dado ao conjunto que engloba esses levantes é Primavera Árabe, não pela estação do ano, mas por serem similares a outras revoluções históricas contra governos opressores. Entre elas podemos destacar a Primavera de Praga em 1968, movimento que desagradou de sobremaneira a URSS e a Primavera dos Povos, conjunto de movimentos revolucionários de cunho liberal que ocorreram por toda a Europa durante o ano de 1848.
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A própria palavra primavera nos faz pensar em um novo tempo, o desabrochar das flores após o inverno. Exatamente isso vem ocorrendo.
Gênese na Tunísia
Tudo teve início neste país, quando Mohamed Bouazizi, um cidadão até aquele momento comum, colocou fogo no próprio corpo em protesto contra a forma opressora com que as frutas e legumes que ele vendia foram tomados pela corrupta polícia local. Este ato extremo foi a forma que ele encontrou para externar o desespero de um trabalhador frente ao governo opressor. A morte trágica deste tunisiano desencadeou uma forte onda de protesto contra o presidente Zine el-Abdine Ben Ali, governante do país desde 1987 (23 anos).
A morte do trabalhador foi somente o estopim, em um país desigual e governado por um mesmo grupo há décadas. A revolução teve início em 17 de dezembro de 2010. Já em 14 de janeiro de 2011 o chefe de estado da Tunísia já havia renunciado e fugido para a Arábia Saudita.
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Mesmo após eleições presidenciais em 2014 o país continua instável. Parte da população não aceitou o resultado do pleito e extremistas religiosos não observam com bons olhos a democracia.
Em 2015 dois atentados terroristas abalaram as esperanças do país. Em março, 22 pessoas morreram em um ataque ao Museu do Bardo, ao lado do parlamento tunisiano. Entre as vítimas estavam 17 turistas que visitavam o local.
Em junho, outro atentado matou 39 pessoas em um resort na praia de Sousse, um dos locais mais badalados do país. Saiba mais no site ZH Notícias. Ambos os ataques tiveram relações com o grupo Estado islâmico, que vê a ocidentalização do país como um retrocesso.
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Ainda assim, entre todos os países participantes da Primavera Árabe, a Tunísia parece ser o mais próximo de atingir a democracia plena.
Egito
No início de 2011, influenciados pelo rápido “sucesso” obtido pela população da Tunísia, os egípcios também se inflamaram. Ditadura, corrupção, altos índices de desemprego, censura, enfim, a Primavera Árabe no Egito reúne basicamente as mesmas e importantes pautas da Tunísia.
Entendendo como as manifestações eram articuladas, o governo suspendeu os serviços de internet e telefonia celular. Um toque de recolher foi imposto e soldados enviados as ruas. De nada adiantou e muitas pessoas foram mortas.
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Após 18 dias de protestos e muita repressão, Hosni Mubarak deixou o cargo contabilizando 30 longos anos no poder. O que parecia ser a solução, se transformou em um martírio.
Em sua primeira eleição, no ano de 2012, os egípcios elegeram Mohamed Morsi, apoiado pela Irmandade muçulmana, grupo político e religioso que atua em diversos países do Oriente Médio, Ásia e África. A ideia central do movimento é que o islamismo não sirva apenas como religião, mas como forma de ditar a vida dos fiéis em uma fusão com o Estado.
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O perigo era o Egito sair das mãos de um ditador e cair nas garras de um grupo extremista religioso.
Um ano mais tarde, acusado de incitar a violência e cometer atos de traição contra as leis da nação, o presidente eleito foi retirado do cargo e preso por militares. Dessa feita, cerca de 1.400 manifestantes pró Morsi foram mortos e mais de 15.000 presos.
Em junho de 2014 Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, o próprio general que retirou Morsi, foi eleito presidente em uma eleição tremendamente duvidosa. Hoje governa o país com mãos de ferro.
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Infelizmente o Egito ainda não encontrou seu caminho rumo a democracia, reveza entre ditadores, extremistas religiosos e as forças armadas.
Próximo Texto
Nosso próximo post continua abordando a Primavera Árabe. Veremos como as manifestações eclodiram em outros países, com destaque para Iêmen, Líbia e Síria. No caso sírio, a maior crise humanitária da atualidade. Imperdível!
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Publicado em 14.03.2017