Em nosso último texto abordamos as duas primeiras classificações do relevo brasileiro, produzidas pelos professores Aroldo de Azevedo e Aziz Ab´Saber. Ainda estão em uso, entretanto, uma classificação mais moderna foi produzida, sendo atualmente a mais utilizada.
Jurandyr Ross
Em 1989 foi divulgada a classificação mais atual de nosso relevo, pelo menos até o presente momento, produzida pelo geógrafo Jurandyr Ross. Como ela foi gerada em um momento mais moderno de nossa história contou com aparatos tecnológicos que não existiam no momento de confecção das outras classificações.
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Ross se baseou nas imagens produzidas pelo impressionante projeto Radambrasil (escreve com b minúsculo). Entre 1970 e 1985, no período militar, aviões com radares cobriram todo o território brasileiro, mapeando toda a superfície, incluindo suas elevações e depressões.
De posse deste imenso trabalho, Ross conseguiu produzir a mais completa classificação do relevo de nosso país, atualmente considerada a mais criteriosa. Para tanto, levou em consideração a origem geológica do local (morfoestrutura) e a ação do clima, tanto no passado (paleoclima) como atualmente (morfoclima). Também foi levado em consideração a questão morfoescultural, ou seja, a forma do revelo moldada pelos agentes externos.
Nosso relevo ficou dividido entre planaltos, planícies e depressões. No Brasil, só temos depressões relativas, ou seja, mais baixas que seu entorno, não apresentando depressões absolutas, mais baixas que o nível do mar.
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O detalhamento foi tão grande, graças a ajuda da tecnologia, que o Brasil ficou dividido em 28 unidades de relevo, sendo 11 planaltos, 11 depressões e 6 planícies.
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Na visão de Ross, professor titular da USP, os planaltos são regiões acima de 300 metros, com predomínio da erosão, contendo formas irregulares de relevo como serras, morros e chapadas. Estão divididos em 4 grupos:
- Planalto em bacias sedimentares: Como o próprio nome já denuncia, são regiões que, apesar de mais altas, são formadas por rochas sedimentares. Em resumo, eram mais baixas, receberam sedimentos e por movimentos da crosta se elevaram. Em sua zona de contato com as depressões costumam apresentar relevos escarpados caracterizados por frentes de cuestas¹. Números 1, 2 e 3 na imagem.
- Planaltos em intrusões e coberturas residuais de plataforma: São regiões de rochas sedimentares que sobraram após intensa erosão sofrida por milhões de anos. Em alguns locais podemos observar intrusões graníticas e derramamentos vulcânicos. Observando no mapa, percebemos que é a sobra de algo maior que existia por ali e foi erodido. Números 4, 5 e 6.
- Planaltos dos cinturões orogênicos: São regiões que se elevaram muito no passado, devido a choque entre placas (movimentos orogenéticos), ocorridos no Pré-cambriano (Eras mais antigas), chegando a bilhões de anos trás. Por serem muito antigas, já foram bastante erodidas e não possuem mais a altimetria anterior. Ainda assim são locais com altitude alta para níveis brasileiros. Números 7, 8 e 9.
- Planaltos em núcleos cristalinos arqueados: São regiões também elevadas no passado, porém em forma de abóbodas e bastante desgastadas pela erosão. Números 10 e 11.
As planícies são regiões relativamente planas com predomínio de sedimentação e somam 6 no Brasil.
Já as depressões, uma novidade trazida por Ross, são regiões entre 100 e 500 metros de altitude, mais baixas que o seu entorno, onde predomina a erosão, fazendo a conexão entre os planaltos e as planícies. As depressões podem apresentar algumas elevações residuais e são 11 no Brasil.
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Brasil tem Montanhas ?
Uma das grandes discussões dentro da Geografia/Geomorfologia é se no Brasil existem ou não montanhas. Os teóricos se digladiam nesse assunto.
A disputa persiste por existirem diversas formas de se classificar uma elevação como montanha. Alguns especialistas levam em consideração sua altitude somada a Era em que foi formada. Segundo eles, as montanhas são mais recentes, formadas na Era atual, chamada de Cenozoica, 65 milhões de anos até hoje. Além disso, são regiões ainda em processo de elevação com mais de 3.000 metros de altitude. Nesse caso, não temos montanhas no Brasil, já que não existiram movimentos orogenéticos elevando terras por aqui nos últimos milhões de anos.
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Outros autores classificam as montanhas de acordo com a altimetria em relação a seu entorno. Na visão deste grupo são locais bem mais altos que a vizinhança, com bordas escarpadas, salientando ainda mais seu tamanho, com mais de 300 metros entre a sua base e seu pico. Em nosso país o conselho nacional do meio ambiente (CONAMA) adota essa definição. Nesse caso, temos montanhas no Brasil.
É uma discussão teórica e que dificilmente terá um veredito final. Preferimos acreditar que o Brasil, por ter um relevo antigo, desgastado e abaixo dos 3.000 metros, é um país sem montanhas. Nosso ponto mais alto é o pico na Neblina com cerca de 2.994 metros.
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Comparar os picos mais altos do Brasil com montanhas presentes em cordilheiras como os Alpes, Andes e o majestoso Himalaia não nos parece algo razoável, tanto na idade geológica quanto na altimetria. Mas, como mencionado antes, é questão de quais parâmetros estão sendo utilizados para a classificação.
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1 – Cuesta: forma de relevo em que colinas e montes têm um declive não simétrico, ou seja, suave de um lado e íngreme do outro. A palavra tem origem no idioma espanhol e significa encosta de uma colina ou monte.
Publicado em 15.08.2017
Ótimo conteúdo e bem explicado. Ajudou muito. Obrigado!
Obrigado e continue acompanhando nosso blog.
excelente conteúdo!!!
Excelente material. Muito grato por compartilhar conhecimento.